Workshop Informática na Educação
Afetividade em Máquina: uma possibilidade?
Non-sense completo? Pós-modernidade na Inteligência Artificial?

"The question is not whether intelligent machines can have emotions, but whether machines can be intelligent without any emotions." -MINSKY, The Society of Mind

 

Texto motivador para discussão no painel.
Elaborado por:
Profa. MSc Magda Bercht e Dra Rosa Maria Viccari
Instituto de Informática PósGraduação Ciência Da Computação - UFRGS

Emoções e Afetividade

A afetividade e as emoções tem sido objeto de intenso interesse tanto na civilização Ocidental como na Oriental, desde épocas como o sexto século antes de Cristo, nos estudos de Lao-Tzu (oriental) e nos estudos de Sócrates, nos anos de 470 a 399 A.C. até a contemporaniedade, nos estudos de Sigmund Freud, LeDoux, Magda Arnold, Jacques-Marie Lacan, Sloman, Francisco Varela, Humberto Maturana e muitos outros. Entretanto, o início da pesquisa científica moderna (racionalista) na natureza das emoções está inputado por muitos a Charles Darwin em seu livro sobre expressões emocionais em animais e humanos, publicado no ano de 1872.

Afetividade poder ser conceituada como todo o domínio das emoções propriamente ditas, dos sentimentos das emoções, das experiências sensíveis, e principalmente da capacidade em se poder entrar em contato com sensações, se considerado Spinoza, que afirma existirem somente dois tipos de afetos, os que compõem a vida, e os que decompõem a vida, os que desestimulam a viver.

Piaget define a afetividade como todos os movimentos mentais conscientes e inconscientes não-racionais(razão), sendo o afeto um elemento indiferenciado do domínio da afetividade. Afirma ele, que o afeto é a energia necessária para o desenvolvimento cognitivo e estudos que integram as pesquisas de Freud e de Piaget especificam que a afetividade influe na construção do conhecimento de forma essencial através da pulsão de vida e da busca pela excelência.

Emoções são fenômenos complexos multifacetados. Esta expressão é a única com a qual todos os cientistas de emoções e psicólogos concordam. Porém, para responder esta questão completamente, a resposta dependerá de quem responde e de quando você está perguntando.

A pesquisa contemporânea de emoções na psicologia apresenta 5 perspectivas gerais de como definir, estudar, explicar emoções. Em cada uma destas grandes classificações várias teorias se incluem e representam um meio diferente de pensar emoções. Cada uma delas possui um conjunto de premissas de como definir, construir teorias sobre e como conduzir pesquisas onde cada uma delas está associada com sua própria tradição de pesquisa a saber, as tradições darwiniana, jamensiana, e os enfoques cogntivista, socioconstrutivista e neurobiológico.

A perspectiva darwiniana estuda as funções das emoções, em um contexto da evolução pela seleção natural. Uma vez que o Homem divide sua história evolucionária com os mamíferos e primatas em especial, as funções das emoções seriam similares nos animais e nos humanos. Psicólogos que atuam nesta perspectiva tem seu ponto focal de pesquisa nas expressões emotivas corporais, demonstradas nos humanos e nos animais. Na contemporaneidade, os psicólogos examinam as evidências das funções adaptativas em outros aspectos da emoção.

Foi estabelecido sem nenhuma dúvida que as pessoas em diferentes culturas podem reconhecer as expressões faciais associadas com um pequeno conjunto de emoções. As pesquisas de Ekman e de Izard evidenciam as confirmações que existe "constantes através das culturas" em certas expressões faciais de emoções. Por implicação, a pesquisa de Ekman e outros sobre a universalidade das expressões facias das emoções pode ser tomada como a apresentação de um caso forte para a proposição que as emoções humanas são parte de nossa herança evolucionária. Visto desta perspectiva, as mudanças específicas do corpo que acompanham certas emoções – aí incluído as posturas, expressões faciais e alterações associadas com a ativação do sistema nervoso - são processos adaptativos que representam nossa prontidão no confronto com os tipos de contingências do ambiente que encontramos duarnte a história de evolução de cada espécie. A evidência deste afirmativa é mais forte para as 8 ou 7 grande emoções: alegria, tristeza, raiva, medo, desgosto, surpresa, interesse e .

Os estudos das emoções na tradição jamesiana consistem de várias teorias inspiradas pelo trabalho de William James e pelo dinamarquês Larden. Todas as teorias neste enfoque tem por base a idéia que a experiência da emoção é primeiramente a experiência das mudanças corpóreas. Existe suficiente evidência no escopo das teorias que seguem esta tradição, para concluir que pelo menos um pequeno número de emoções mostram especificidade no sistema nervoso. Os estudos de Levenson e Ekman sugerem fortemente que medo, raiva, tristeza, e alegria pdoem ser distinguidas por diferentes padrões das atividades autonômicas.

A perspectiva cognitivista enfatiza o papel do pensamento na gênese da emoção e persegue o caminho os indivíduos estimam os eventos no ou do meio ambiente. Avaliação ou estimativa se refere ao processo de julgamento de significância individual de um evento. Foi claramente demonstrado que as emoções dependem do modo crucial de como os eventos são avaliados por uma pessoa. Emoções são respostas ao significado dos eventos e estão vinculados com os objetivos e motivações da pessoa. Mais especificamente, diferentes emoções são associadas com diferentes padrões de estimativas. Existe atualmente um considerável corpo de pesquisas demonstrando que emoções podem ser preditas a partir da forma que uma pessoa avaliou uma situação, com diferentes emoções associadas com diferentes padrões de avaliações. Mudando-se o modo como um evento é avaliado e mudará a emoção experienciada. Os achados dos estudos cognitivos da emoção tem importância téorica muito importante, mas também por suas implicações práticas para a psicoterapia.

As teorias que englobam a tradição socioconstrutivista afirmam as emoções, como construções sociais que servem aos fins individuais e sociais. Isto é, os socioconstrutivistas mostram que o modo que falamos das emoções (o modo como as definimos, os modos como se diferenciam em nossa linguagem e nas práticas sociais, as metáforas usadas para emoções e para as experiências emocionais) ajudam na determinação de como experienciamos as emoções. A idéia central é que as experiências e as expressões das emoções são dependentes de regras ou convenções aprendidas e que as culturas diferem no modo como se fala e como se conceitua emoções, como elas são diferenciadas e expressas.

A estas quatro perspectivas ali-se a neurológica, a qual tem tido uma grande influência na psicologia da emoção e surgido alguns dos mais excitantes trabalhos e pesquisas nas tradições jamesianas e cognitivas nos úlitmos anos. Foram oriundos dos recentes trabalhos na neuropsicologia e neuroanatomia. LeDoux, um dos apresenta grandes pesquisadores da área, elabora todo um domínio de pesquisa, a assim denominada neurofisiologia da emoção. Neste enfoque, a maioria das emoções é composta, geradas ou induzida por mecanismos e processos neurofisiológicos. Os sentimentos emocionais são mais úteis se vistos como uma consequencia da atividade neural no cérebro. Pesquisas em neurobiologia mostram evidências que as emoções invadem a inteligência humana em diferentes níveis sendo inseparável da cognição.

Por quê Emoções ? Em Máquinas? No Computador?

Não vejo as emoções e os sentimentos como entidades impalpáveis e diáfanas, como tantos insistem em classificá-los. O tema de que tratam é concreto, e sua relação com sistemas específicos no corpo e no cérebro não é menos notável do que a da visão ou da linguagem. ( Antônio Damásio, O Erro de Descartes, pag. 195, 1994)

Os termos e conceitos como emoção, cognição, aprendizagem e demais termos associados fazem parte do domínio das pesquisas de Filosofia, Psicologia e Educação, mas cada vez mais integram os estudos na Inteligência Artifical. Na verdade, cognição, aprendizagem, pertencem ao vocabulário das pesquisas da hoje nova ciência: Ciência da Cognição. E, conforme Oatley :-" Parece certo que, na medida que mais entendemos de cognição, nós necessitaremos explorar sistemas autônomos com recursos limitados e que contudo lidam com sucesso com múltiplos objetivos, com a incerteza sobre o ambiente externo e com a coordenação com outros agentes. Nos mamíferos, estes problemas de projetos cognitivos parecem terem sido resolvidos, pelo menos em parte, pelos processos que formam as bases das emoções." Esta afirmação por si só constitui uma motivação forte para os estudos dos estados mentais afetivos como modelos para integrar os sistemas de interação entre agentes humanos e artificiais.

A incorporação dos conceitos e características emocionais para a programação de computadores não está na ordem de tornar as máquinas mais inteligentes, ou no sentido de humanizá-las (torná-las humanas), mas sim na idéia de funcionalidade que as emoções podem trazer. Isto é, no objetivo de tornar as aplicações mais adequadas ao Homem e não o Homem se adaptar ao sistema de signos e símbolos da máquina. Traz no bojo a idéia de Varela, que diz que a função de adaptação do homem não é ele se adequar ao ambiente, mas, a função de adaptabilidade humana é de tornar o ambiente adaptável ao homem. Resgatar a premissa que está presente na afirmação de Minsky, na citação inicial do texto: se de fato se pode falar em inteligência se não forem consideradas as emoções, a afetividade.

Estado da Arte: Afetividade na Computação, na Inteligência Artificial

Nas Ciências de Computação, propriamente ditas, como um todo encontram-se poucos e incipientes estudos no que concerne ao estudo e aplicabilidade da afetividade em sistemas. Chega-se de forma indireta aos fatores passíveis de eclodir emoções, uma vez que estudam-se a expressividade dos símbolos e signos, sons e ruídos que desenvolvem ou aprimoram a atenção, a percepção, a estética e características sociais e culturais de um conjunto de usuários (mas cada vez menos, uma vez que visão imperialista ou "globalizada" impõem seus padrões e aculturam) no que toca aos fatores externos, no que deve ser considerado para uma boa interface de comunicação.

Na Inteligência Artificial, inicia-se os estudos e pesquisas na afetividade em diferentes enfoques, a saber:

  • na área interseccionada com a Psicologia Cognitiva: sistemas raciocinadores que levem em conta a afetividade, especificamente as emoções e motivação;
  • desenvolvimento de arquiteturas em Sistemas Multiagentes que integrem os resultados das teorias de emoção e da cognição;
  • modelagem e desenvolvimento de sistemas que integrem a natureza adaptativa e funções das emoções;
  • sistemas artificiais que possam desenvolver a identificação de estados emocionais através da interação e comunicação com um agente humano;
  • sistemas artificiais que possam desenvolver a integração das emoções e comportamentos com um agente humano;
  • modelos cognitivos e não cogntivos de aprendizagem, na área de aprendizagem de máquina (ML);
  • na robótica, integrando a máquina com as assim denominadas emoções de máquina, os "emotrons".

Uma pesquisa: Tutores Inteligentes com Emoção ou
Agentes Inteligentes Emocionais…ou Emocionantes?

Os Sistemas Tutores Inteligentes (STI) não atenderam ainda a muitas das expectativas prometidas em relação aos CAI (Computer Aided Instruction), especialmente no que se refere a adaptabilidade das estratégias de ensino ao tipo e necessidades do aluno, no que se refere a avaliação do desempenho do aluno no processo de ensino e aprendizagem que leve em consideração fatores motivacionais e emocionais. Levar em conta as características do aluno de maneira a trabalhar os conteúdos com ele, com comportamentos cada vez mais inteligentes, instigando o aluno no processo de aprender, é uma das principais linhas de pesquisa atualmente.

O conhecimento da prática pedagógica nos atuais STI são na maioria dos casos baseada em aspectos do processo instrucional do domínio ou conteúdo em ensino em detrimento dos aspectos motivacionais e emocionais do aluno. Mesmo nos sistemas onde existe a preocupação com fatores motivacionais e emocionais do aluno em interação, a teoria que dirige as decisões da ação pedagógica está incorporada de forma implícita nos procedimentos do sistema em constraste com a representação explícita do domínio. Além disso a Educação, vem sendo influenciada nesses últimos anos pela Ciência Cognitiva, trazendo novas idéias, principalmente em relação a formação e construção do conhecimento. Hoje, o conhecimento é considerado como algo socialmente construído através da ação, da comunicação e da reflexão por parte dos alunos. As inovações tecnológicas aliadas a estas novas abordagens estão levando diversos pesquisadores a desenvolverem STI, orientados com esses enfoques.

Novamente o aluno, em sua representação no sistema – modelo do aluno-, se apresenta como o lado mais fraco, devido a problemas ainda não resolvidos, como as capacidades tecnológicas do hardware e software, ao pouco conhecimento que se tem sobre os processos de aprendizagem de um aluno, à imprecisão e subjetividade dos fatores emotivos e motivacionais envolvidos em ambientes de ensino e aprendizagem, ao problema da representação do conhecimento pedagógico e a tantos outros.

Normalmente, a avaliação pedagógica em um STI está baseada em quanto um aluno conhece sobre um determinado tópico ou domina uma habilidade específica, o que acarreta em estudar e detectar o conhecimento do aluno em relação ao domínio. Entretanto, ao se levar em conta os fatores motivacionais e afetivos, a avaliação pedagógica se complementa, pois adiciona-se o como o aluno conhece sobre domínio e qual sua intensidade em desenvolver (presdisposição) mais seu o aprendizado. Um STI necessita então estender o conhecimento e procedimentos relativos a detecção do estado motivacional e afetivo do aluno.

Trabalhos que desenvolvem fatores motivacionais e emocionais no comportamento dos alunos em interação de ensino e aprendizagem com tutores artificiais podem ser estudados em: Solato, Elisabeth André, Clark Elliot,

Essas mudanças de paradigmas, quer pedagógicas, tecnológicas e/ou sociais requerem, naturalmente, alterações nas arquiteturas dos STI. As arquiteturas que utilizam tecnologias multiagentes e multimídia tem aberto novas possibilidades em viabilizar essas mudanças.

A partir da motivação e dos estudos e pesquisas foram determinadas:

  • a área de estudos e pesquisas: modelagem de agentes pedagógicos estruturados em base de considerações afetivas e motivacionais em trabalho de interação e cooperação com fatores de desempenho; modelagem de alunos que leve em consideração aspectos como motivação intrínsica, influências do humor, esforço no desenvolvimento das tarefas, ou melhor, fatores afetivos e motivacionais;
  • as teorias e pesquisas que suportam o trabalho de modelagem das emoções e suas relações em agentes, cognitivista em essncia, sem descuidar das funcionalidades evolucionárias das emoções(darwinista) e da constituição sóciocultural para determinar as funções sociuais e culturtais de um grupo usuário, no caso o aluno,
  • as teorias e formalismos que auxiliam no processo de representação das emoções e suas relações entre si e com as situações do mundo físico e mental: como Teoria das Situações, de Devlin e uma proposta de arquitetura análoga a de SEM de Milton Correa Filho;

Objetivos

Precípuo: desenvolvimento de um modelo ou arquitetura de diálogos para as interações entre agentes autônomos em processos de ensino e aprendizagem que consideram o afeto, as emoções e motivações como um dos fatores para adaptação de situações de ensino e aprendizagem.

Secundários: estudo das relações entre os estados cognitivos e afetivos entre agentes autônomos em uma situação de aprendizagem;

Proposta

Sociedade de agentes que interagem entre si em uma analogia com a arquitetura SEM de Milton Correa, com agentes do tipo BDI( Belief, Desires e Intentions), com as seguintes proposições para de especificação:

Crença:

  • Autoconfiança
  • Independência

Desejo:

  • Conhecer ou adquirir o conteúdo/conhecimento
  • Findar o momento ou a situação de aprendizagem
  • Desenvolver o conhecimento
  • Exploração

Intenção:

  • Planos de conduta

Humor:

  • Fatores ambientais
  • Fatores internos

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