Interatividade no Ambiente Virtual
Eny Maria Moraes Schuch Trabalho apresentado durante o SBIE´99 - Curitiba - PR
A utilização dos recursos telemáticos aplicados às artes é uma realidade que se mostra contingente à formação artística, num momento em que inúmeros artistas já utilizam tais tecnologias na sua prática diária, ratificando a participação do observador nas suas propostas artísticas e oferecendo novas maneiras de apresentar, enfocar, discutir e realizar a arte atual, pari passu à realidade que nos cerca. Na arte contemporânea a grande ênfase da exploração do espaço tridimensional está no uso da interação em seus diversos níveis. A participação ativa do espectador desliza entre o antigo papel de observador e a condição de ator da obra, incluindo muitos casos em que o trabalho artístico não chega a sua realização plena a não ser com a ação efetiva do espectador (como exemplo citamos a instalação El Último Cemi, de Dayoan Daumont apresentada no V Salão de Arte digital de Nova Iorque em 1997). Neste contexto, é necessário que o estudante de artes visuais vivencie situações nas quais ele desenvolva sua capacidade de uso do espaço tridimensional e das proposições de interatividade adequadas às circunstâncias do seu próprio trabalho, considerando, também, o universo das alternativas oferecido pela telemática. A inclusão das tecnologias digitais no processo de ensino-aprendizagem aproxima o universo dos alunos das questões tecnológicas atuais, propiciando experiências num ambiente que concentra simultaneamente vários recursos para a construção das propostas artísticas, entre eles: meio de produção e exibição/ disponibilização dos trabalhos realizados, trocas de opiniões via lista de discussão e pesquisas teóricas e práticas que podem ser realizadas via rede. Este fato, mais o fato de que o acesso à rede pressupõe uma interconexão com o coletivo, e mais ainda, o fato de que a proposta de trabalho com os alunos é coletiva, faz pensar que níveis diferenciados de interatividade/ interação podem contribuir para a construção do conhecimento artístico. Esta hipótese parte da noção piagetiana de que a construção do conhecimento se dá nas relações de interação entre o sujeito e a realidade que o circunda, sendo elaborado no processo de assimilação/acomodação que se vale tanto da percepção – como dado primário, mas não único e independente – quanto das operações conceituais anteriores que forjaram a capacidade perceptiva do momento, viabilizando as contínuas formulações/ reformulações do pensamento conceitual. Desta maneira, a intenção deste trabalho é proporcionar condições de interatividade com novos objetos/ ambientes (virtuais) promovendo o conhecimento dos sujeitos, confluindo para uma produção intelectual/ artística ativa e intencional, onde cada um contribui com suas singularidades, limitações e criações. Nossa principal interrogação, sobre a interatividade envolvida no processo de construção do conhecimento artístico que utiliza o espaço tridimensional em ambiente virtual é: • a interatividade desviada do ambiente concreto para criações híbridas no ambiente virtual contribui para a construção do conhecimento do sujeito? De que maneira?
O Ambiente de Ensino-Aprendizagem do Espaço Tridimensional Dentro da proposta acima, a interatividade no processo de criação artística – que desencadeia possíveis na (e através da) construção artística, conforme estudo preliminar de Schuch e Axt (1999) – utilizando o ambiente telemático Construções Múltiplas propõe situações em que os alunos possam interagir em diferentes níveis. À medida que os alunos realizam suas tarefas e as disponibilizam para os demais colegas, este ambiente é enriquecido, transformado e adaptado para maior envolvimento do usuário com o meio em questão. Nele, as proposições dos grupos anteriores podem ser manipuladas pelos usuários futuros, sendo possível recortar, colar, compor a partir das experiências já concluídas, não apenas formalmente, mas prioritariamente através dos conceitos – idéias dos proponentes do trabalho – que estruturam a apresentação gráfica das propostas complementando e/ ou questionando com diferentes maneiras de perceber as criações disponibilizadas na rede. A atuação do professor no laboratório durante as aulas é de promover condições e informações técnicas de apoio para a execução das atividades.
Discussão Inicial Partindo do princípio que a inteligência decorre da ação, ou seja, da "ação em seu conjunto, na medida que transforma os objetos e o real", e o conhecimento "é essencialmente assimilação ativa e operatória" (PIAGET & INHELDER 1995, p. 30, ênfase nossa), temos então que as funções cognitivas pressupõem uma atitude ativa por parte do sujeito. Tendo em vista a organização/ movimentação dos trabalhos em sala de aula, já é possível discriminar pelo menos três níveis de interatividade/ interação contribuindo para a construção do conhecimento artístico: • interatividade com o meio virtual – considerando que as trocas funcionais que decorrem da ação do homem, entre ele próprio e o seu meio, se operam "[...] a distâncias cada vez maiores no espaço (percepção etc), no tempo (memória etc) e seguem trajetórias sempre mais complexas (rodeios e retornos)" (PIAGET 1967, p. 24), enfocamos a interatividade com o ambiente telemático que propõe uma nova forma de existir, num tempo e espaço em suspensão; • interatividade entre os sujeitos – a atividade coletiva no meio telemático promove alterações nas relações que são estabelecidas entre os usuários que compartilham a elaboração de ações comuns; • interatividade com o produto elaborado – todas as conceituações dos componentes dos grupos são representadas de alguma forma – seja através da escrita, de forma gráfica ou mesmo verbalmente como no espaço real – tais representações se tornam registros congelados que permitem um ir e vir assíncrono afeito às necessidades individuais, incrementando diferentes pontos de articulação/ alteração na atividade perceptiva das produções artísticas disponibilizadas na rede. A interatividade desviada do ambiente concreto para criações híbridas no ambiente virtual contribui para a construção do conhecimento do sujeito, se, a partir dessa relação de interatividade/ interação lhe for possível construir novos objetos complexos (observáveis e relações entre estes observáveis). Imaginamos que tal ocorra devido a que as estruturas perceptivas devem sofrer um desenvolvimento qualitativo pelo apoio direto das operações conceituais elaboradas pelo sujeito, em relação ao conteúdo que está sendo explorado sensorialmente, pelo menos, em tempo real, uma vez que já não podemos falar em espaço real na exploração de ambientes telemáticos.
Bibliografia
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