INTRODUÇÃO
O SENAC foi reconhecido pelo governo federal como órgão
de formação e especialização dos recursos humanos,
logo após a Conferência de Teresópolis no decorrer
do ano de 1946. Esta conferência, realizada por João Daudt
D’Oliveira, teve a participação de todos os setores de produção
reunindo cerca de 800 participantes, cujas conclusões constituem
o grande documento, que passou à História com o nome de “Carta
Econômica de Teresópolis”. Neste documento, havia recomendações
expressas quanto à criação e manutenção
de entidades de educação e ensino, especialmente do primário
e secundário.
A idéia de criar serviços de aprendizagem se originou
da necessidade de formação de pessoal especializado, intensificada
devido aos problemas econômicos trazidos pela Segunda Guerra Mundial.
Do ponto de vista organizacional, o SENAC possui uma administração
nacional e várias administrações regionais. A administração
nacional conta com um conselho nacional, um conselho fiscal e um departamento
nacional. A administração regional é feita através
de conselhos e departamentos.
Na vida do SENAC, como órgão dinâmico do
desenvolvimento econômico - social do país, passaram-se diversas
fases na Evolução do seu Ensino. No período inicial.
quando a atividade comercial tinha como principal característica
a transitoriedade, optou-se pela ampla cooperação com o ensino
comercial do sistema regular, previsto por lei, para fazer frente à
baixa escolaridade dos menores aprendizes e à carência de
formação básica dos comerciários adultos.
A década de 60 marca a vida intitucional pelo enquadramento
da aprendizagem no Sistema Oficial de Ensino, com intensidade, quantitativa
e qualitativa, do treinamento e aperfeiçoamento do comerciário
adulto.
O progresso advindo e as solicitações do mercado
pela profissionalização motivaram que, a partir de 70, se
desenvolvesse o “Plano de Expansão da Rede Escolar do SENAC”, através
de critérios racionais de alocação de mão-de-obra
segundo localização e interesses das peculiaridades regionais
do país.
O conjunto das ações institucionais se fundamenta
em três grandes políticas:
- REAFIRMAÇÃO da função social do
SENAC, quando é totalmente repensada a atuação institucional,
entendendo o trabalho não como simples engajamento em uma ocupação,
mas sim como vivência do papel social desse desempenho.
- DEMOCRATIZAÇÃO das oportunidades de formação
profissional, quando a ação do SENAC vai transcender os limites
da classificação econômica, incorporando propostas
de atendimento ao setor informal, assessorias às micro, pequenas
e médias em-presas, e penetração junto as populações
de baixa renda, no que se refere às suas necessidades de emprego
e qualificação.
- DESENVOLVIMENTO institucional integrado, correspondendo a adequação
da estrutura organizacional às ações anteriormente
relacionadas, através da descentralização de decisões
e consequente maior autonomia gerencial.
- FORMAÇÃO PROFISSIONAL: Preparação
do Homem para o Trabalho, apoiada na compatibilização entre
desenvolvimento integral e aquisição de conhecimentos específicos
realizada em cursos, seminários e programas de treinamento.
- DESENVOLVIMENTO EMPRESARIAL : Programações dirigidas
a uma ou mais empresas (micro, pequena, média e grande), com vistas
ao desenvolvimernto de pessoal e da organização, realizadas
através de cursos, seminários, planos de capacitação,
consultoria e assessoramento à empresa.
- VALORIZAÇÃO PROFISSIONAL : Programas de valorização
das profissões, das pessoas que almejam o ingresso no trabalho e
das que estão nele engajadas, segundo critérios que resguardem
a verdadeira relação HOMEM/TRABALHO. É objetivada
através de atividades específicas da Orientação
para o Trabalho, da Informação Profissional e de diversas
atividades de grupos, de divulgação e intercâmbio.
A consecução dos objetivos institucionais de Formação
Profissional, de Desenvolvimento Empresarial, de valorização
profissional, são apoiadas nos recursos da moderna tecnologia educacional,
que lança mão de cinco modalidades operativas:
- CENTROS DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL: O SENAC possui
atualmente cerca de 92 centros de atendimento ocupacional diversificado,
19 centros especializados, 11 mini-centros, 18 núcleos e agências
de formação profissional, totalizando 140 unidades escolares
fixas. As programações nestas unidades são oferecidas
segundo os níveis de:
? Iniciação: Prepara candidatos para o desempenho de
tarefas elementares de determinada ocupação.
? Qualificação: Proporciona formação adequada
para o exercício de uma ocupação.
? Habilitação: Forma auxiliares-técnicos e técnicos
de nível médio.
? Aperfeiçoamento: Oferece oportunidade de elevação
da eficiência profissional, através de seminários,
encontros, palestras e outras atividades.
? Treinamento: Possibilita a desempregados e candidatos a emprego condições
de adaptação a nova tarefas.
Além de suas programações específicas,
o Centro de formação Profissional constitui-se em base física
a das outras modalidades operativas:
? Empresas Pedagógicas: Unidades que se constituem numa metodologia
de ensino e também numa modalidade de formação profissional,
com instalações e características empresariais, abertas
ao público, possibilitando aos participantes viverem as rotinas
de uma empresa real. As principais características das empresas
pedagógicas são: atendimento direto ao público, proporcionado
aos treinados condições reais de trabalho e compatibilização
dos custos operacionais como produto final, buscando a sua auto-sustentação
financeira.
? Unidades Móveis: Constituem uma modalidade operativa, através
das quais os departamentos regionais desenvolvem seus programas fora do
centro de formação profissional, com instrutores especializados,
que se deslocam para as diversas regiões do interior e da periferia
das áreas metropolitanas, que permitiu a expansão do atendimento,
atingindo 1397 munícipios brasileiros em 1984. As características
que definem as unidades móveis são: operacionalização
extra-centro de formação profissional, cursos ministrados
de forma intensiva, atuação confiada a instrutores especializados,
que não apenas ministram como, também, administram as programações.
? Capacitação na Empresa: Modalidade desenvolvida na
empresa, aproveitando o próprio local de trabalho, com vista ao
aprimoramento profissional e à otimização de sua política
de recursos humanos.
? Tele-Educação: A formação profissional,
hoje, tem que atingir rapidamente o maior número de pessoas, em
virtude do acelerado processo de mudanças tecnológicas e
sociais. O SENAC lança mão de modernos veículos de
comunicação, levando em conta a escassa disponibilidade de
tempo dos trabalhadores para se aperfeiçoarem. A educação
por meio de correspondências, rádio ou TV, permite ao SENAC
chegar à própria casa do trabalhador ou candidato ao emprego.
Para substituir a diversidade qualitativa do seu atendimento,
o SENAC se utiliza de mais de 500 tipos de programações de
formação profissional, segundo as seguintes áreas
ocupacionais, são elas:
? Administração de Empresa;
? Moda;
? Comunicação e Artes;
? Hotelaria e Turismo;
? Saúde;
? Higiene e Beleza;
? Conservação, Manutenção e Serventia;
? Informática;
? Idiomas.
Finalmente, observamos que o SENAC tanto oferece programações
para o indivíduo que somente é alfabetizado (servente), como
dispõe também de programas altamente complexos, como os de
comércio exterior, mercados de capitais, elaboração
e análises de projetos, etc, visto ser a clientela do seu sistema
de ensino bastante heterogênea no que diz respeito ao grau escolarização,
nível cultural ou social (Brum, 1995).
Portanto, em função do SENAC ser um importante
órgão na formação e preparação
de mão-de-obra no setor terciário, o objetivo deste trabalho
é realizar uma avaliação da situação
atual do SENAC no Rio Grande so Sul e como ele participa do desenvolvimento
da comunidade comercial do Estado através da formação
de recursos humanos.
METODOLOGIA
Esta pesquisa foi realizada a campo através de uma entrevista,
seguindo um questionário previamente formulado(segue em anexo),
com a diretora de formação profissional do SENAC, a Sra.
Iari de Menezes Vasconcelos.
RESULTADOS
Transcrição da entrevista realizada no dia 13 de Junho
de 1997 com a diretora de formação profissional do SENAC,
a Sra. Iari de Menezes Vasconcelos:
Entrevistador: Quais são os cursos profissionalizantes, que capacitam
as pessoas para o mercado de trabalho, que existem no SENAC? Quais as áreas
que vocês atuam?
Diretora: O SENAC trabalha com duas áreas de formação:
a profissional propriamente dita (que são os cursos que capacitam
para ao exercício de uma determinada profissão em nível
médio) e o outro conjunto de programas são chamados de ações
extensivas à formação profissional (complementam a
formação profissional, seja atualizando alguma técnica
ou trazendo alguma competência complementar importante ao exercício
de uma determinada profissão). Dentro da formação
profissional o SENAC possui oito áreas de formação
(saúde, beleza, informática, administração,
hotelaria, turismo, moda) e aproximadamente quinhentas capacitações
(por exemplo, na área da saúde: auxiliar de enfermagem; área
de administração: auxiliar de contabilidade, serviço
de escritório).
O curso técnico é uma denominação
aplicada aos programas do ensino formal que habilitam para uma determinada
profissão que precisam da autorização da Secretaria
Estadual da Educação e do Conselho Estadual de Educação
para funcionar. No caso do SENAC nós temos 5 cursos: técnico
em transação imobiliária, auxiliar de enfermagem,
técnico em secretariado, técnico em reabilitação
modalidade massagista e técnico em ótica. Os demais cursos
são do ensino não-formal. Cursos são só os
da formação profissional, o resto é ação
extensiva. Dentro das ações extensivas, o SENAC apresenta
várias modalidades de programa como os estudos de suplementação.
Idiomas,por exemplo, é estudo de suplementação assim
como ferramentas de informática porque são importantes em
toda profissão de comércio e serviço.
E: Qual é a idade média, nível de instrução
e formação profissional do público alvo do SENAC?
Que tipo de perfil pode descrever os indivíduos que procuram os
cursos do SENAC?
D: Eu vou responder e depois vou fornecer um material para vocês
que apresenta estes dados estatisticamente demonstrados. A população
alvo do SENAC são jovens e adultos, a maioria apresenta entre 18
e 30 anos. Mas existem jovens com menos de 18 anos, até 12, 14 ou
15 anos e vão encontrar muitas pessoas com mais de 30 anos, de 40,
50, 60, 70 anos. Mas 80% do nosso público alvo tem entre 18 e 30
anos. Embora isso não seja um pré-requisito nosso, cada curso
ou ação extensiva tem um pré-requisito de conhecimento
prévio e alguns de idade se o exercício profissional exige.
A maioria dos nossos alunos tem 2? grau completo ou incompleto.
Um número expressivo de alunos nossos tem curso superior completo
e uma parte menos expressiva tem 1? grau completo ou incompleto. Isso foi
mudando ao longo das décadas. Existiu um longo período da
nossa história que nós tínhamos um grande número
de alunos que estavam cursando o 1? grau. Com o tempo a escolaridade da
população comerciária foi subindo. Sessenta por cento
dos nossos alunos são mulheres e isso se mantém historicamente.
E: Qual o período de duração dos cursos?
D: Varia essencialmente em relação aos objetivos do programa
e a complexidade da ocupação. Um curso mais longo duraria
2000 horas (são os cursos técnicos), mas são excepcionais.
Um curso de longa duração no SENAC tem em geral 500-600 horas,
um curso de média duração tem 200-300 horas e um de
curta duração varia entre 15 a 20 horas (ex: embelezador
de mãos e pés), até 60 horas.
E: Os alunos recebem certificado ou diploma?
D: No final se recebe um certificado. O diploma é conferido
unicamente aos cursos técnicos. Curso técnico tem diploma.
Cursos do ensino não-formal tem certificado. Nós temos os
certificados das ações extensivas, os quais são, em
sua maioria, apenas de participação. Dentro das ações
extensivas, os estudos de suplementação tem certificado de
participação e aproveitamento. E os cursos da formação
profissional tem certificado de aproveitamento e frequência.
E: Quem define os cursos que serão ministrados no SENAC, são
os empresários conforme a necessidade do mercado ou são os
técnicos do SENAC?
D: O SENAC tem uma administração composta por representantes
do estado através do Ministério da Educação,
do Ministério do Trabalho e do INSS, pelo representante dos trabalhadores,
mas a maior parte do conselho é composto pelas federações
de comércio e serviço (pelos empresários). Então
a gente tem uma ligação muito grande com o mercado. Mas para
fazer uma avaliação dos cursos que serão ministrados,
nós temos uma ligação técnica com as próprias
empresas (e não com os organismos que representam as empresas como
as federações e sindicatos), com as sugestões de alunos
e pelos técnicos do SENAC de acordo com as necessidades e tendências
do mercado, do mundo produtivo. Nós temos moldado a programação
muito pela forma como o estado do RS está se inserindo num mundo
globalizado (porque é um dos poucos estados do Brasil que está
fazendo isso deliberadamente), levando em conta que o trabalhador do RS
terá que ter uma força de trabalho competitiva com o trabalhador
dos outros países e blocos econômicos quem o RS vai ser parceiro,
concorrente ou fornecedor. É feita uma investigação
científica com os instrutores de cada área para montar estes
programas e isto ocorre em momentos distintos durante o ano. Existe um
momento do ano chamado de momento de planejamento curricular quando se
faz planejamento do próximo ano para a organização
toda. As unidades especializadas (a de idiomas, a de saúde, a de
informática) sentam com os técnicos da diretoria de formação
profissional e se analisa currículo por currículo. E em novembro
sai o conjunto da programação para o próximo ano.
Depois disso, existe um sistema de atualização dos programas
(alterações curriculares ou novos cursos) em cada mês
para suprir as novidades no mundo das profissões que muda a cada
dia.
E: De onde vem os recursos para manter o sistema em funcionamento? As
empresas dão alguma contribuição? É suficiente?
E se não é, os alunos contribuem? Pagam taxas? Qual critério
é utilizado para estabelecer o valor dessa taxa?
D: O SENAC foi criado em 1946 por lei. Não é uma empresa
estatal mas uma empresa de direito privado. Mas ela é mista porque
o governo autorizou a socciedade criá-la e o governo autorizou que
o INSS, qwue é um órgão público federal, fizesse
uma arrecadação junto as empresas e repassasse para a manutenção
doSENAC. Entao um órgão público recolhe o dinheiro
da iniciativa privada e repassa para a manutenção do SENAC,
SENAI, SESC, SESI e do SEBRAE. No caso do SENAC, é 1% das folhas
de pagamento das empresas de comércio e serviço que o INSS
retém e repassa para nossa manutenção. Mas esta verba
vem diminuído progressivamente porque outros impostos tem liberado
as empresas de pagarem para o INSS este valor. Por causa disto, desde a
década de 1980, o Senac começou a cobrar taxas de matricula.
Progressivamente nós vimos cobrando mais taxas de matrícula.
Alguns cursos são quase totalmente subsidiados, a taxa cobrada ainda
é muito simbólica. Haverá ainda elevação
de taxas em alguns programas porque nós temos como meta até
o ano 2000 nos tornarmos auto-sustentáveis. Isso porque é
quase certo que essa arrecadação compulsória seja
extinta, não de uma tacada, mas progressivamente. Quando o SENAC
e SENAI iniciaram, não tinham como cobrar da população
comerciária porque ela não existia, era tudo trabalhador
imigrante do meio rural, quase analfabeto ou recém alfabetizados,
não tinham mesmo como pagar. Hoje há existe uma classe comerciária
bem instituída e que tem como remunerar os seus serviços.
E as empresas como o SENAC cresceram tanto que tem condições
de serem geridas como empresas particulares, como empresas da iniciativa
privada que tem condições de se manter. Hoje 60% vem da arrecadação
compulsória e 40% das taxas de matrícula, mas essa relação
tende a se inverter progressivamente até chegar a 100% de auto-sustentação.
E os alunos sabem que é importante pagar, porque aquilo que é
gratuito parece que não é para cidadãos, parece que
é para excluídos. E as pessoas que afluem para o SENAC não
são os excluídos, os pauperizados. A população
que trabalha em comércio e serviço é a população
urbana e não pauperizada. O excluído normalmente quando faz
o seu reingresso no mundo do trabalho, ele não se inclui pelas atividades
formais de comércio e serviço, ele se inclui por atividades
por conta própria ou no mercado informal. Então a maioria
dos nossos alunos são população comerciária,
filhos de comerciários, filhos de classe média que está
em serviço, são profissionais liberais, e aí tem condições
de remunerar.
E: Quem são os professores e como são selecionados? Qual
a formação deles?
D: Os instrutores do SENAC são, em geral, técnicos
em determinada ocupação de comércio e serviço
aos quais nós ministramos uma formação docente para
que eles possam dar boas aulas. Um dos referenciais importantes do SENAC
é que nós damos boas aulas, didaticamente bem estruturadas.
Nós fazemos uma boa transposição didática do
saber técnico para o saber didático. Existem áreas
de formação que os instrutores são profissionais de
3? grau, como médicos, enfermeiras, administradores, economistas,
instrutores de língua, etc.
Cada unidade tem uma equipe técnica que tem preparo para
fazer a seleção de docentes tanto na área técnica
quanto na área pedagógica. A seleção se dá
por um critério primeiramente de nivelamento técnico na profissão
e depois se ele tem condição de se tornar um bom docente.
E: Existe mercado de trabalho no SENAC para um biólogo?
D: Na área de hotelaria e na área de saúde, numa
subárea nova que é de saúde ambiental.
E: Os cursos tem uma proposta pedagógica ou são os professores
que decidem o método de ensino?
D: Quando nós selecionamos o professor, um dos requisitos é
a gente poder analisar se ele se adequa a proposta pedagógica, se
ele se submete a proposta pedagógica. Existe uma proposta pedagógica
que está posta para todas as áreas, depois existem projetos
educacionais por área de formação. Cada área
de formação tem um plano educacional próprio porque
existe uma identidade de cada área muito peculiar. A identidade
comum é que nós somos todos da área de comércio
e serviço. A proposta pedagógica está posta como um
todo para comércio e serviço, dentro de cada área
nos temos um projeto próprio e todos os cursos estão submetidos
a isso.
E: Como os alunos são selecionados quando não há
número de vagas suficientes nos cursos?
D: Nós abrimos novas turmas. O que pode acontecer é ter
um número excedente que não forma uma turma. Aí nós
abrimos e divulgamos vagas e tentamos entre outras escolas, no caso da
capital, ver se não tem alunos e juntamos em um ponto que seja adequado
para todos. A gente nunca deixa de responder a demanda, porque é
uma demanda da cidadania e, por certo, também é uma demanda
do mundo do trabalho. Se está havendo pessoas procurando, certamente,
é porque o mundo do trabalho está precisando.
E: Existe algum monitoramento por parte da direção do
SENAC, em termos de atualização técnica e qualidade
de atendimento ao público dos professores? Se houver reclamações
do aluno, existe algum setor responsável onde ele deve se dirigir?
D: Sim, sempre. Não há muitas reclamações.
Mas há muitas e muitas sugestões. São os setores técnicos
das escolas que recebem isto, nós chamamos aqui no SENAC de supervisor
técnico (similar a orientador educacional em escolas comuns). O
nosso supervisor técnico tem uma atuação como se fosse
um gerente da escola, para quem os alunos se dirigem para fazer sugestões.
Mas qualquer profissional dentro do SENAC está habilitado e recebe
bem sugestões e reclamações, desde a instrutoria,
aos balconistas e os recepcionistas que fazem as inscrições.
Mas sempre que um profissional intermediário desse recebe, ele leva
para o supervisor técnico. Os diretores das nossas unidades também
recebem, atendem pais, jovens, empresários. E isto não é
uma prática recente. Sempre foi assim. Não é uma prática
nova de gestão. É a maneira que a gente tem de alimentar
os programas. E como a gente não tem impedimento legal de alterar
currículos e de acrescentar e fazer melhorias, imediatamente a gente
absorve, o que é diferente da escola de ensino formal.
E: Os profissionais formados nos cursos do SENAC têm boa colocação
no mercado?
D: A colocação no mercado formal (no emprego) se diferencia
muito de área para área. A área de beleza é
uma área, tradicionalmente, que leva os alunos para atuação
empreendedora no primeiro momento. Logo os egressos se estabelecem por
conta própria, eles vão prestar serviços como autônomos
(em casa ou salões) e em um segundo momento, eles querem montar
seu próprio salão. A área de moda também é
assim. Agora, outras áreas se prestam mais a um emprego. Na área
de informática, as pessoas tem excelente colocação
no emprego. A área de administração também.
Na área de hotelaria, especialmente na parte de garçom e
cozinheiro, tem excelente colocação no emprego. Os alunos
chegam a ser “roubados” de dentro do curso.
Mas uma coisa é verdade em todas as áreas. Como
a gente faz nas diferentes capacitações, uma preparação
para o trabalho e não para o emprego, mesmo que o alunos não
consiga um emprego, os alunos saem com um bom nível de maturidade
e preparo para vender os seus serviços, para se estabelecer no mercado
informal e, às vezes como prestador de serviços, ái
não é informal porque tem registro e tudo mais. Então
um resultado dos nossos programas é muito bom nesse sentido, acho
que é por isso que a gente tem tantos alunos.
CONCLUSÃO
Este trabalho nos fornece uma visão do funcionamento do
SENAC no Estado do Rio Grande do Sul no que diz respeito a qualidade de
cursos e instrutores, ao perfil do público alvo, a proposta pedagógica,
a atualização dos cursos conforme mudanças no mercado,
a origem dos recursos destinados a manutenção do SENAC e
à inserção dos profissionais no mercado de trabalho.
Através da entrevista realizada com a diretora, observamos
que a estrutura do SENAC sofreu algumas alterações nos últimos
anos, comparado com o trabalho de Brum, 1995.
O SENAC tem tido a preocupação de atualizar a sua
programação de maneira a permitir que seus estudantes adquiram
habilidades que os capacitem a competir com trabalhadores de outros países
e blocos econômicos com quem o RS vai interagir para negócios.
Isso possibilita que alunos tenham acesso a cursos relativamente
baratos, mas que os qualificam a exercer de forma competente suas aitivdades
profissionais. Essa qualidade se deve ao rigoroso processo de seleção
dos docentes, aos eficientes recursos didáticos utilizados e ao
sistema mensal de atualização dos cursos, entre outros fatores.
Entretanto, devido ao fato dos recursos destinados pelas empresas
à manutenção do SENAC estarem diminuindo progressivamente,
a tendência, conforme o depoimento apresentado, é tornar a
instituição auto-sustentável através da cobrança
de taxas de matrículas.
Isso poderá dificultar o acesso de pessoas de baixa renda
aos cursos do SENAC, que desejem qualificação para atuar
em determinada área ou simplesmente atualização em
alguma técnica.
Portanto, apesar da ótima qualidade dos cursos oferecidos
pelo SENAC, a meta de se tornar auto-sustentável poderá torná-lo,
também, cada vez mais elitista.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRUM, H. A. 1995. A Formação Profissional e o Serviço Social na CNC. A Educação no Brasil. Rio de Janeiro: Confederação Nacional do Comércio, 343-362.
ANEXO 1. Questionário
1. Quais são os cursos profissionalizantes, que capacitam as
pessoas para o mercado de trabalho, que existem no SENAC? Quais as áreas
que vocês atuam?
2. Qual é a idade média, nível de instrução
e formação profissional, que tipo de perfil pode descrever
o público alvo do SENAC?
3. Qual o período de duração dos cursos?
4. Os alunos recebem certificado ou diploma?
5. Um curso de fotografia ou de cabelereiro é considerado um
curso técnico? (Porque um curso de inglês, por exemplo, não
é considerado um curso técnico).
6. Quem é que define os cursos que serão ministrados,
são os empresários conforme a necessidade do mercado ou são
os técnicos do SENAC?
7. Quem são os professores e como são selecionados? Qual
a formação deles?
8. Uma curiosidade: Existe mercado de trabalho para um biólogo?
9. De onde vem os recursos para manter o sistema em funcionamento?
As empresas dão alguma contribuição? É suficiente?
E se não é, os alunos contribuem? Pagam taxas? Qual critério
é utilizado para estabelecer o valor dessa taxa?
10. Existe alguma forma dos empresários que apóiam a
instituição supervisionarem ou avaliarem a qualidade dos
cursos ministrados?
11. Os cursos tem uma proposta pedagógica? Ou são os
professores que decidem os métodos de ensino?
12. Isso pode ser abrangido para os outros SENACs do Estado?
13. Como os alunos são selecionados quando não há
número de vagas suficientes nos cursos?
14. Qual a estrutura organizacional do SENAC? Quantas escolas ou centros
de formação profissional existe à disposição
do público no RS? Existe algum departamento central ou regional
onde encontram-se as áreas que administram todas as outras unidades
operacionais? Se tem, onde fica?
15. Existe algum monitoramento por parte da direção do
SENAC, em termos de atualização técnica e qualidade
de atendimento ao público dos professores? Se houver reclamações
do aluno, existe algum setor responsável onde ele deve se dirigir?
16. Os profissionais formados nos cursos do SENAC têm boa colocação
no mercado?