Laura
Rita Rui
Lisandro
Márcio Signori
O trabalho tem por objetivo obter uma amostra da formação acadêmica dos profissionais que estão lecionando a disciplina de Física, a nível de ensino médio, em escolas públicas e privadas no estado do Rio Grande do Sul.
JUSTIFICATIVA
É sabido por todos, que o magistério, como categoria profissional tem sofrido um profundo desgaste e arrocho salarial, que já dura mais de uma década e continua agravando-se nos nossos dias.
Os reflexos desta crise têm-se manifestado como desvalorização da profissão e conseqüente esvaziamento dos quadros de profissionais dispostos a seguir carreira como professor.
Já fazem vários anos que os meios de comunicação de massa divulgam a pouca procura para os vestibulares com ênfase em licenciatura, noticiando inclusive, o fechamento de vários cursos de licenciatura em universidades do nosso estado.
As universidades privadas oferecem descontos diversos, que chegam até 50% nestes cursos, buscando estimular sua procura por parte dos vestibulandos. Os reflexos destes jatos têm-se mostrado ao após ano, na falta de professores para lecionar as mais diversas disciplinas no sistema estadual de ensino. No sistema municipal a situação é a variável conforme a remunerável conforme a remuneação oferecida, enquanto o Município de Porto Alegre, por exemplo, mantém um quadro estável de professores concursados, em Viamão recorre-se já a alguns anos, aos contratos emergenciais para suprir a falta pronunciada de professores. Contratos emergenciais que são usados ano após ano pelo sistema de ensino oferecendo algumas milhares de vagas para todo o estado. O ensino privado, certamente não está alheio a este problema, mas ainda não noticiou-se na grande imprensa nada a respeito, demonstrando que neste segmento a ausência de profissionais ainda não tornou-se crítica como nos outros.
A conseqüência principal, no âmbito da profissão, é que o magistério está tornando-se um "bico", um segundo emprego, ou emprego temporário, enquanto não aparecer nada melhor, ocorrendo isto com um número cada cez maior de professores, de modo que a desqualificação e o despreparo são problemas apresentados por um sem número de pessoas que estão exercendo o magistério. Desqualificação que atinge profissionais de outras áreas, sem formação pedagógica que assumem lecionar, para aumentar seus rendimentos e despreparo de inúmeros estudantes em início de curso universitário que são recrutado principalmente nos contratos emergenciais em estado e municípios.
A crise tem atingido todas as áreas do ensino, mas sobremaneira, áreas que historicamente têm registrado um procura menor nos concursos vestibulares, sendo a Física uma destas áreas.
Em meio a este quadro, consideramos plenamente justificável fazer avaliação, mesmo que amostra no significativa, sobre os profissionais que atualmente estão lecionando a disciplina de Física nos sistemas estadual e privado de ensino, já que não fomos e nenhuma escola municipal.
METODOLOGIA
O método consistiu em visitar escolas, buscando obter a informação : quem está lecionando a disciplina de Físicca na escolaa, e qual sua qualificação/formação profissional? Esta informação foi obtida de duas maneiras: entrevistando um ou mais professores de Física da escola, que informaria a sua situação, e se necessário a dos colegas, ou então entrevistando alguém da área administrativa da escola que possuísse as informações necessárias. A escolha das escolas não obedeceu nenhum critério de amostragem, apenas procuramos pesquisar um número semelhante de estabelecimentos públicos e privados.
Visitamos escolas a que tínhamos mais acesso, seja por proximidade das residências ou por algum tipo de indicação de que facilitasse o acesso. Também fizemos algumas entrevistas por intermédio de colegas que lecionam a disciplina.
RESULTADOS OBTIDOS
Os resultados obtidos estão divididos nas categorias pública ou privada, e junto a cada escola, segue a maneira como foram obtidas as informações e algum dado adicional. Em algumas escolas, não foi possível obter informações sobre todos os professores.
Escolas Públicas
1. Escola Estadual de 1º e 2º Graus Gomes Carneiro - POA
Formação: Segundo semestre de Física - UFRGS
Informação adicional: contrato emergencial desde 06/96
Formação: Licenciatura em Física - PUC
Professor: Ricardo Bertoldi
Formação: Sexto semestre de Física
- PUC
Formação: Curso Superior em Ciências - UCS
Professor: Luís
Formação: Licenciatura em Física
- UFRGS
Formação: Engenharia Mecânica - UFRGS
Formação: Licenciatura em Física - PUC
Professor: Edelar Manfroi
Formação: Licenciatura em Química - PUC
Professor: André Luís Ferreira - Contrato emergencial
Formação: Quarto semestre em Física
- UFRGS
Formação: Formando em Licenciatura em Física
- UFRGS
Formação: Licenciatura em Física - Universidade de Santa Cruz
Informação adicional: Graduação
obtida em curso de férias.
Formação: Quinto semestre de Engenharia Civil - Unisinos
Professor: Fabiane Porto Anflor
Formação: Quinto semestre em Matemática - FACOS - Osório
Professor: Paulo César de Medeiros
Formação: Licenciatura em Ciências e Matemática - PUC
Quinto semestre Física - UFRGS
Professor: Flávio Ferri
Formação: Formando em Licenciatura em Física
- UFRGS
Formação: Sétimo semestre da Licenciatura
em Física - UFRGS
Formação: Sexto semestre da Licenciatura em Física - UFRGS
Professor: Onei Soares
Formação: Licenciatura em Física - PUC
Professor: José Ramiro
Formação: Licenciatura em matemática
com habilitação para Física
Formação: Quinto semestre da Licenciatura
em Física - PUC
Formação: Engenharia Civil - UFRGS
Professor: Denilson da Silva
Formação: Sexto semestre da Licenciatura
em Física - Unisinos
Formação: Todos têm Licenciatura em Física
SÍNTESE DOS RESULTADOS
Escolas Públicas
Professores da área de Física: Licenciados: 04
Estudantes: 04
Professores de outras áreas: Licenciados: 03
Estudantes: 02
Não Licenciados: 02
Total: 15 pesquisados
Escolas Privadas
Professores da área de Física: Licenciados: 05
Estudantes: 04
Professores de outras áreas: Licenciados: 01
Estudantes: 0
Não Licenciados: 01
Total: 11 pesquisados
Total Geral
Professores da área de Física: Licenciados: 09
Estudantes: 08
Professores de outras áreas: Licenciados: 04
Estudantes: 02
Não Licenciados: 03
Total: 26 pesquisados
Vimos que tanto nas escolas públicas quanto nas privadas, é grande o número de estudantes lecionando, a diferença está no grau de andamento dos cursos, nas escolas privadas todos os estudantes já ultrapassaram a metade do curso, ao passo que nas públicas há estudantes em início de curso lecionando.
Outra diferença importante é a grande presença de profissionais de outras áreas lecionando Física na rede pública, enquanto na rede privada, este número é pouco notável. Embora preservando-se de contratar profissionais de outras áreas , a presença de alunos, demonstra que a carência de profissionais licenciados já se manifesta também na rede privada de ensino.
O que estes números demonstram com certeza, é que a crise do magistério forçou os estabelecimentos de ensino a abter-se de critérios de seleção mais rigorosos, abrindo o mercado de maneira indiscriminada, de modo que engenheiros, estudantes de engenharia e matemática, ou até estudantes de Física em segundo semestre de curso estão lecionando a disciplina. Então, em alguns casos, soma-se o despreparo pedagógico com baixo nível de conhecimentos específicos, tudo isso em uma disciplina que é considerada de difícil aprendizado, e foi historicamente apresentada aos alunos como uma ciência desconexa da realidade, quando na verdade a grande novidade no ensino da Física é o seu relacionamento com nossas atividades quotidianas, uma vez que estamos cercado de fenômenos físicos em todos os aspectos da nossa vida.
Ocorre que o estabelecimento destas conexões requer conhecimentos físicos aplicados e preparação pedagógica, pré requisito que normalmente nào são cumpridos por profissionais de outras áreas, entre os quais muitos lecionam apenas temporariamente para aumentar seus rendimentos, no conhecido "bico".
CONCLUSÃO
A conclusão natural é a perda da qualidade de ensino, os prejudicados são os alunos, principalmente aqueles que não têm condições de pagar as mensalidade de um bom colégio particular, onde teoricamente haveriam melhores professores.
A continuar neste ritmo, o ensino, principalmente o estadual, corre o risco de tornar-se um verdadeiro teatro, onde poderemos aplicar um ditado popular bastante conhecido: "os professores fingindo que ensinam e os alunos fingindo que aprendem".