UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
Educação
Patrimonial
Fernanda Campis
4192/95-6
O presente trabalho tem como
intuito colocar uma das muitas propostas extra-curriculares que se pode
explorar em Educação Infantil, fazendo todas relações
possíveis com a Educação Patrimonial.
O interesse pelo referido assunto, se deve a muitos motivos. Um deles é
o fato das administrações municipais, estaduais e federais
cederem cada vez mais atenção às políticas
culturais, desenvolvendo medidas que comportam o intuito de preservar
a memória de seu povo, atavés de determinações
como tombamentos, preservações e restaurações.
outro motivo é reavivar o tema da Memória a partir do imaginário
cotidiano.
Este estudo é realizado a partir de uma vivência de 5 meses
com o Projeto " Aula no Museu", desenvolvido no Museu Joaquim José
Felizardo, da Secretaria Municipal de Cultura de Porto Alegre. O público
do referido projeto é composto por escolares infantis, que são
convidados, de forma sútil e descontraída, a interagirem
com um campo de reflexão da Memória.
A reação de crianças de camadas populares urbanas
e sua experiência de infância na cidade são manifestados
através de alguns códigos de emoções.
Em vários momentos do dia-a-dia, a sociedade relaciona-se com questões
referentes ao campo da memória. Seja no sentido da moda, que faz
um revival com os brechós e "mercados de pulgas", ou mesmo os bancos
de dados virtuais, acessados via Internet. Dessa forma é possível
constatar que várias situações da modernidade, ou
pós modernidade que se vive, remete a uma certa astúcia que
o indíviduo necessita para construir, no seu cotidiano, um molde
de sua prórpia existência, bem como conferi-la um sentido.
As crianças que participam do Projeto "Aula no Museu", tiveram uma
oportunidade de exercitar e desenvolver suas capacidades e recursos de
simbolização, livre associação e, ordenamento
dos acontecimentos sociais passados na cidade.
PARTE I
Museu Joaquim José
Felizardo é o nome do Museu Histórico da cidade de Porto
Alegre, órgão vinculado a Secretaria Municipal de Cultura
da referida cidade.
O museu foi instalado em 1982, no antigo Solar construido a mando do próspero
comerciante português Lopo Gonçalves entre 1845 e 1855, sendo
tombado pela Prefeitura Municipal em 1979, desde então é
um patrimônio cultural da cidade.
A estética arquitetônica do solar coloca claramente a diferenciação
de laços sociais, porém captado de forma diferente em cada
criança.
No campo da pesquisa histórica, o espaço do Solar serve como
fio condutor e organizador do percurso histórico de grupos que conferiram
forma à cidade de Porto Alegre desde a pré-história,
resguardando em seu espaço físico exposições
permanentes que expressam didaticamente os vários ambientes.
Através do Projeto "Aula no Museu", pode-se colocar novos padrões
para a Educação Patrimonial, possibilitando assim, a redescoberta
por parte das crianças, das razões sombólicas de ocupação
dos espaços do Solar.
O que se procura proporcionar às crianças é uma viagem
no tempo, onde a alegria está em pescar paisagens humanas, aproveitando
o espaço físico, bem como acervo de objetos que possui o
Museu.
De início notava-se uma certa "dureza" nas crianças, chegam
em filas por ordem crescente, difíceis de desmanchar. Em pouco tempo
elas se familiazaram com o ambiente e as pessoas que não conheciam
até então.
É possível provocar a memória, colocando a estranheza
e a fantasia para trabalhar, vai-se reconstituindo um saber que acena para
a cnstrução dos trabalhos da imaginação.
O que se procura explorar no universo infantil pode ser compreendido nesta
citação de Durand:
"... para poder viver
as imagens é necessário
que a imaginação
seja suficientemente humilde para se
designar encher de imagens."
PARTE II
Muitas das exposições
que um Museu oferece, pode ter um caráter contínuo e linear
da história urbana de Porto Alegre.
É nitidamente visível o quanto facilita para a crainça
em visita a um Museu, a Expressão de sua forma de pensar, sentir
e agir com o referido espaço, assim como a redefinição
do sentimento de estranheza/surpresa com o desconhecido quando comparado
o passado histíórico da cidade a elementos vivenciados em
suas realidades. Quebrando com a continuidade que marca suas vivências
sociais.
É bastante gratificante para as crianças esta forma de passar
a história, buscando resgatar nas diferentes ambiências do
Museu, que foram constituídas de obras de valor patrimonial, seu
aspecto de coleção estética e espaço para 'museografar'
a cidade, os bairros, ruas praças, etc.
Outro ponto interessante é a fascinação que os pequenos
escolares tem ao avistar um galpão de madeira que abriga um velho
bonde, mesmo nunca tendo andado em um, gira toda uma idéia nessas
pequenas mentes brilhantes.
A entrada no Museu pode significar para a criança a transformação
da matéria de objetos testemunho de seus familiares e amigos mais
velhos, permitindo-lhe aprendizagens de todo um conhecimentos produzido
historicamente pela comunidade.
A idéia que se coloca é a de trabalhar a produção
estética para a Memória da cidade a partir das fabulações
da crainça, sem a preocupação rígida da convenção
museográfica que atribuí aos objetos a função
de transmitir a memória de uma época, mas antes, oferecer-lhe
a parte mágica de toda cultura material de um grupo humano.
Um bom exemplo da cultura material e dos grupos de consumo pode ser visto
em uma exposição arqueológica que resgate tais artefatos.
As crianças fazem uma assimilação subjetiva da memória
em relaçaõ ao conceito tempo, segundo Durand, "...
a sensibilidade (...) serve de medium entre o mundo dos objetos e dos sonhos".
É curioso a resposta das crainças em relação
ao tempo de existência do solar, muitas vezes quando elas pensam
em casa antiga comparam a um tempo um pouco maior que a sua existência.
A exploração dos jogos da memóra das crainças
no Museu de sua significação lógica, possibilitou-lhes
o "conhecimento em ato" da cidade.
Conclusão
O trabalho com as crianças leva a um tipo de adesão mágica
ao acervo patrimonial. Do alcance simbólico dos objetos, dos realtos,
das imagens conservadas como parte do acervo do Museu de Porto Alegre e
de seus registros autônomos, por serem signos de uma monumentalidade
fictícia, investe-se na circulação e expressão
de referências especiais e percepções acerca da origem
da cidade.
Portanto o trabalho com aprendizagens dentro de um campo da Memória
Social, a partir de motivaç~eos sombólicas e suas ambiguidades
características ao período da infância, vincula-se,
assim, por um lado, a uma espécie de convite à decifração
dos enigmas qe contém um objeto, uma imagem, e por outro lado, a
recusa por parte das crianças em romper e/ou desordenar com os seus
de tempo constítuidos no cotidiano.
Como afirma Bolle, "a criança tem essa propriedade de entrar
no jogo e sair dele com perfeita naturalidade."
Bibliografia
BACHELARD, G. A Dialética
da Duração. São Paulo, Ática, 1998.
________. La poethique
de l'espace. Paris, PUF.
BOLLE, W. Cultura, patrimônio
e preservação. In ARANTES, A (org.). Produzindo o passado.
SP: Brasiliense, 1984.
DURAND, G. As estruturas
antropológicas do imaginário