UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
EDU 03329 - ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DO ENSINO DE 1º E 2º GRAUS
PROFESSORA: MALVINA DORNELLES

TÍTULO: O Fórum Nacional de Defesa da Escola Pública - FNDEP
ALUNOS: André Luiz Gonçalves de Souza - 0302/93
                  Maurício Puros de Oliveira - 2191/94-2
PERÍODO: Agosto de 1996 - 96/1


INTRODUÇÃO
O objetivo deste trabalho é fazer uma análise do Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública - FNDEP, em sua atuação durante o processo de elaboração da Constituição Brasileira de 1988 e da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Sendo analisado enquanto um movimento social que será descrito por tópicos a seguir:
1) Origem do FNDEP: surgiu em 1986, em função de articulações realizadas objetivando a elaboração de uma Carta Magda para o País. Oficialmente ele foi lançado em Brasília a 9 de Abril de 1987, através da Campanha Nacional pela Escola Pública e Gratuita, com uma denominação inicial de Fórum da Educação na Constituinte em Defesa do Ensino Público e Gratuito.
O lançamento de Fórum foi acompanhado de um "Manifesto em Defesa da Escola Pública e Gratuita", seguindo uma tradição dos educadores brasileiros desde a década de 30.
O Fórum dos anos 80 surge, inicialmente, para reivindicar um Projeto para a educação como um todo e não apenas para a escola (embora esta, na pública, seja o centro principal de suas atuações).
O Fórum expressava a vontade política de parcelas da intelectualidade brasileira  engajada na luta pela redemocratização do País, agregando os interesses da sociedade civil sob novas formas, principalmente através da atuação de entidades, aglutinando coletivos socialmente organizados e não apenas indivíduos pioneiros como nos anos 30.
2) Composição interna e forças sindicais presentes: o Fórum foi composto inicialmente de por 15 entidades nacionais, sendo 3 de organizações de classe (CUT/CGT/OAB). Das entidades da área da educação, 4 são entidades voltadas para o ensino, a pesquisa e/ou para sua divulgação (ANPED/SBPC/SEAE/CEDES); 6 são entidades de trabalhadores profissionais da área de educação (ANDES/ANDE/CPB/FENOE/FASUBRA/ANPAE) e 2 são entidades do movimento estudantil (UNE e UBES).
A maioria das entidades que participaram da criação do Fórum eram recente, outras eram mais antigas, mas foram recriadas, pois estavam na clandestinidade, e outras expressavam fatos novos da sociedade brasileira.
Os denominadores comuns que articulavam essas 15 unidades eram: a defesa da escola pública e a posição político - partidária de oposição ao regime militar vigente, a composição das forças sindicais se dividiam em: apoio, oposição radical ou neutralidade (aparente). Entretanto a importância do Fórum foi dada pelo seu significado como um todo.
O resultado obtido entre os embates ocorridos na Constituição, polarizados na área de educação em torno da destinação das verbas públicas, trouxe conseqüências para a correção de forças sociais presentes no Fórum na fase da LDB. Nesta fase, o FNDEP ganha uma entidade específica; deixa de ser um fórum específico de defesa da escola pública. Tendo em vista que a constituinte consagrou a possibilidade de verbas públicas para escolas não públicas (comunitárias).
O Fórum não se tornou um movimento de massas, não teve penetração junto ao movimento popular organizado.
3) Os antagonistas do FNDEP: o FNDEP apresenta uma característica peculiar, é um movimento que busca preservar a atuação estatal mas, preservar em função dos direitos da maioria do cidadãos, preservar o Estado que deve criar, defender e gerenciar os bens públicos para a coletividade e não para corporações privadas.
As principais forças sociais que se opuseram ao FNDEP durante o processo constituinte foram: as escolas particulares, através da FENEN - Federação Nacional do Estabelecimentos Particulares de Ensino; ela interveio constantemente noa trabalhos da constituinte e elaborou uma proposta para o capítulo da educação na constituinte.
O outro adversário do FNDEP era o setor privado confessional, reunido em torno da Associação Brasileira de Escolas Superiores Católicas (AEC), este último adversário era bastante ambíguo. Ao mesmo tempo que sua identidade como um membro do setor privado era indiscutível, ele criou uma personalidade jurídica nova: a de comunitário, por atuar sem fins lucrativos.
As escolas ditas comunitárias defenderam na constituinte a idéia da não exclusividade das verbas públicas e foram as grandes vitoriosas no processo.
No próprio interior do aparelho estatal o principal opositor de FNDEP foi o grupo de deputados do "centrão". Suas emendas de caráter privatista e empresarial, retiravam do texto constitucional a gratuidade do ensino público e a gestão democrática de escola.
4) Práticas cotidianas da ação: as práticas usuais do Fórum refletiam as práticas do cotidiano na fase da constituinte, como na da LDB, manifestos, cartas, telegramas aos parlamentares e contatos com líderes dos partidos políticos, sobretudo as lideranças "confiáveis", constituíram as principais formas de pressão do FNDEP.
A nível interno, as práticas se resumiam a reuniões, seminários, simpósios e preparação do material: artigos, emendas, propostas, o próprio projeto em si e a elaboração de documentos.
Dessas práticas observamos que: elas sempre estiveram circunscritas a pequenos grupos. Ainda que elas emanassem de entidades com grande representatividade social, o circuito de divulgação e circulação de suas ações resumiam-se na lista dos agentes diretamente interessados, as práticas se concentram às vezes fortemente demarcados por uma conjunto mais amplo da própria comunidade educacional.
O FNDEP não logrou atingir a sociedade civil através dos meios de comunicação de massa, e quando o fez as notícias não foram bem colocadas, o FNDEP enquanto movimento social tendeu a mobilizar apenas as categorias corporativas, que viriam em  suas ações uma forma de expressar sua habilidades.

ANEXOS
Principais reivindicações e bandeiras de luta no desenvolvimento do FNDEP:
1. "... Defesa da educação como um direito de todo cidadão, sendo dever do Estado oferecer o ensino gratuito e laico" (p. 87);
2. Em 1990 o FNDEP lutou pela "retomada do substitutivo [referindo-se ao projeto de LDB da época] de Jorge Hage..., buscando impedir seu arquivamento" (p. 88);
3. Buscou a aprovação, na íntegra, da LDB, sem seu esfacelamento;
4. O anteprojeto da LDB (Jorge Hage), defendido pelo Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública, trazia consigo, entre outras propostas sobre a "... formação e a carreira dos recursos humanos na área da educação (...). Propõe a "extinção do atual Conselho Federal de Educação e sua substituição por um Conselho Nacional de Educação - CNE, além de reservar um lugar institucional ao próprio Fórum enquanto instância ampliada de consulta do CNE" (p. 89).

Estrutura e organização do FNDEP:
O FNDEP contou, desde sua gênese, com entidades de caráter nacional. Durante a elaboração da LDB, o FNDEP procurou descentralizar-se ao máximo, elaborando "filiais" do Fórum em diferentes estados. A sede principal do Fórum foi Brasília.
Pelo fato do FNDEP constituir-se a partir de várias entidades, o Fórum, enquanto movimento social, pode circunscrever-se, também, a diferentes "arenas de Luta" (p. 89). Contudo, a principal "arena" foi  via legislativa.
"O Fórum não expandiu seu raio de ação para a sociedade civil mais ampla e nem se consolidou enquanto um espaço com identidade própria para ser ouvido e/ou consultado (...). A organização cotidiana no Fórum esteve sempre centrada no trabalho individual de pessoas das instituições que o constituíam (...) " (p. 90).
O público e o privado no FNDEP:
O público, para o FNDEP, "corresponde à área de bens e serviços produzidos [e] geridos pelos órgãos governamentais do Estado" (p. 91)
A escola pública deve ser gratuita, sem barreiras, de nenhuma natureza, ao seu acesso.
O "(...) equipamento escola [é] uma obrigação estatal. E esta obrigação tem um caráter público, dada a origem das verbas (...)" (p. 91).
A Educação Pública o é, também, pela participação através de canais institucionalizados (democracia - representatividade) da sociedade civil.
A abertura de uma gerência democrática, para que de fato assim seja, implica na inclusão de representações de interesses também privados. Ou seja, à democracia cabe justamente a correlação de forças na esfera política.
Neste sentido, os interesses que estarão presentes na esfera política são provenientes, portanto, de interesses públicos e privados.

BIBLIOGRAFIA
GOHN, Maria da Glória. Movimentos Sociais e Educação. São Paulo: Cortez, 1992, V. 5, 117 pág.