Filosofia - importante ou não: uma reflexão sobre o seu ensino no 2º grau
Leonir de Pariz Ribeiro - 4203-93/6
Soraia Sant'anna - 2472/90-7
O presente trabalho visa realizar uma reflexão acerca do ensino de Filosofia no 2º grau, sua relevância e as conseqüências com a sua exclusão do currículo a partir da Lei 5692/71.
Sabe-se hoje que esta lei foi criada e colocada em vigor no período para assegurar um único pensamento, pensamento este que visava formar indivíduos alienados, obedientes e acríticos.
Durante os 13 anos em que a Filosofia esteve fora do currículo escolar a ditadura militar pode manipular e condicionar a "autonomia" do pensamento humano, assim como suas ações. Com a repressão intelectual e física, as pessoas passaram a temer represálias violentas, tais como: tortura, cárcere, exílio...
Naquela época, os indivíduos não podiam expressar-se em informalmente, o medo era intenso; as famílias passaram a educar os pequenos a não opinar, não refletir sobre as mínimas questões. Na escola tudo poderia se considerado subversivo. Questionar, NUNCA; o por quê das coisas e acontecimentos, JAMAIS! O professor detinha todo o poder e todo o conhecimento. Como conseqüência da ideologia acritica, as pessoas passaram a não refletir, não questionar; é como que se o pensamento tivesse atrofiado.
Hoje a nossa sociedade ainda sofre desse mal, pois percebe-se que indivíduos possuem uma educação fragmentada, que não promove a integração dos conteúdos, as disciplinas são estanques, são limitadas a sua área; condicionando assim um pensamento único, alienante e atomizado no indivíduo.
Nossos estudantes ainda recebem uma educação baseada naquele modelo arcaico, ilustrado por um pensamento condicionado. Pode-se exemplificar alguns casos em que os educadores buscam fazer com que os alunos pensem, reflitam mais e que elaborem soluções para determinados problemas contudo muitos estudantes resistem aos desafios que lhe são propostos, não conseguindo ir além dos modelos já apresentados anteriormente. Percebe-se assim uma acomodação por parte dos mesmos.
Com tudo isso pode-se afirmar que a lei 5692/71 ao enfatizar o ensino de 2º grau técnico, propiciou a desvalorização do pensar e mesmo com a lei 7044/82 que descaracterizou o 2º grau profissionalizante não se conseguiu ainda avançar no sentido das instituições escolares promoverem a ênfase no trabalho intelectual, trazendo a Filosofia para o currículo escolar, como aporte da reflexão humana em todas as dimensões nas áreas do conhecimento.
Para resgatar o exercício do pensamento crítico e reflexivo, acredita-se que a Filosofia por ser:
"ela que reúne o pensamento fragmentado da ciência e o reconstrói na sua unidade. É ela que retoma a ação pulverizada no tempo e procura compreendê-la. Portanto, a Filosofia é a possibilidade da transcendência humana, ou seja, a capacidade que só o homem tem de superar a sua imanência (...)" (p. 48, Aranha, 1986)
As perguntas feitas foram as seguintes:
1 - "Despertar o aluno para o pensamento, ou seja, fazer com que o aluno pense.
Desenvolver o pensamento crítico.
Dar uma visão ampla do mundo e do homem através do questionamento."
2 - "Tem conseqüências para o aluno e tem conseqüências para o país a nível de educação. Para o aluno a conseqüência de não ter Filosofia é propiciar a acomodação do pensamento, não desenvolve o pensamento político.
Para o país a formação da mão de obra técnica barata sem questionamento e sem curso superior.
O cidadão fica com o ensino fragmentado, sem visão de conjunto, daí é fácil governar um país. Tudo isso foi como objetivo político."
3 - "Os alunos perguntam: 'O que eu posso fazer com a Filosofia?' Eu respondo: 'Pouca coisa. Dar aula dá pouco dinheiro. E se não der aula, não faz nada com ela.'
Agora, eu pergunto diferente para eles: 'O que a Filosofia pode fazer comigo?' Por isso eu achei a pergunta bem formulada, visa a formação do aluno como um todo, e não como a feita pelos alunos, que esconde por detrás um pensamento utilitarista, pragmático, econômico, etc... A Filosofia pode dar uma visão de conjunto, globalidade e radicalidade da realidade. Ela pode contribuir para o aluno sair de uma visão ingênua para uma visão crítica, porque quem tem dúvida já se acordou para o mundo, quem não tem está dormindo."
(...)
Conclusão:
A partir das respostas coletadas na amostra do trabalho percebe-se que o ensino de Filosofia é fundamental para o desenvolvimento do pensamento humano, sendo o único veículo condutor para uma visão holística do mundo.
No entanto verifica-se que o que foi dito pelos professores entrevistados e a prática, não se configura em verdade, pois apesar dos docentes considerarem a Filosofia importante no ensino de 2º grau, esta não é ministrada na grande maioria das escolas. Somente uma das escolas públicas, das quais entrevistou-se um professor, tem em seu currículo o ensino de Filosofia e uma da rede privada também traz a disciplina como componente curricular, as outras escolas públicas não têm qualquer referência sobre tal ensino.
Questiona-se ainda, os princípios norteadores do ensino de Filosofia nestas escolas, tendo em vista um cunho crítico, reflexivo e emancipatório ou como aparelho lógico reprodutor das classes dominantes, causando alienação mais uma vez.
Gostaríamos de ter feito uma amostragem também dos alunos dessas escolas, bem como ter tido mais professores de Filosofia e outros de outras escolas privadas para confrontar suas opiniões e a partir das diferentes variáveis podermos tecer um comentário conclusivo mais consistente.
Dado os fatos conclui-se que a filosofia é de suam importância no ensino de 2º grau contribuindo no desenvolvimento pleno do educando, para que este possa desvelar criticamente o contexto sócio-econômico e político a qual está inserido.
"Descobrir a verdade é ter a coragem de enfrentar as formas estagnadas do poder que tentam manter o status quo, é aceitar o desafio da mudança. Saber para transformar." (Aranha, 1986, p. 48)
Bibliografia:
ARANHA, Maria Lúcia
de Arruda. Filosofando: introdução à Filosofia. São
Paulo: Moderna, 1986.