A EDUCAÇÃO DE DEFICIENTES AUDITIVOS - A NÍVEL DE 1º GRAU - NA REGIÃO METROPOLITANA (POA)
Adriana C. T. Santos (0019/90-4)
INTRODUÇÃO
A presente pesquisa aborda como tema principal "A Educação de Deficiente Auditivos na região metropolitana (POA)", considerando o Plano de Ensino previsto pela SEC-RS e a "práxis" em duas escolas para deficientes auditivos.
Através desta pesquisa procurou-se identificar a relação entre a prática de ensino curricular em cada escola versus plano de ensino previsto pela SEC-RS, a formação profissional do corpo docente, os métodos e as técnicas pedagógicas adotadas no ensino, os meios (recursos humanos e materiais) disponíveis em cada escola, bem como os recursos destinados à educação de deficientes auditivos pela SEC-RS.
Este estudo tem como objetivo analisar o plano de ensino em 1ºgrau para Deficiente Auditivos, os recursos disponíveis pelas escolas, a formação dos profissionais em educação para Deficiente Auditivos, bem como avaliar a "práxis" desenvolvida, considerando-se os êxitos e limitações.
Inicialmente o estudo seria realizado em uma escola especializada na educação de Deficiente Auditivos, sendo esta escola pertencente à rede particular de ensino vinculada à SEC-RS. Porém, ao entrar em contato com a SEC-RS no Departamento de Ensino Especializado para Deficiente Auditivos, foi indicada uma visita no CAEDA (Centro de Atendimento Especializado para Deficiente Audição). Assim, a pesquisa acabou sendo realizada em dois locais: CAEDA e Centro Educacional para Deficiente Auditivos - Escola Especial Concórdia.
APRESENTAÇÃO DAS INSTITUIÇÕES
Conforme mencionado anteriormente os dados apresentados nesta pesquisa foram levantados em dois locais que, a seguir, serão apresentados:
I- CAEDA CENTRO DE ATENDIMENTO ESPECIALIZADO PARA DEFICIENTE AUDIÇÃO
O CAEDA é um órgão de estrutura periférica da FADERGS - Fundação de Atendimento ao Deficiente e ao Superdotado no Rio Grande do Sul, que é subordinado à Secretaria de Educação.
Este órgão situa-se na rua Morretes, n.º. 222, bairro Santa Maria Goretti, fone: 341.9498. No local funcionam também o CADEP - Centro de Avaliação e Estimulação Precoce, e o NAPSA - Núcleo de Atendimento ao Portador da Síndrome de Autismo.
Os dados foram levantados através de entrevistas com a coordenadora Pedagógica, prof. Regina Bonato Neves e sob a permissão da Diretora Sra. Márcia Rech.
O CAEDA existe há vinte anos, mas há aproximadamente cinco funciona como escola (foi fundado em 1974).
Atende cerca de 130 deficientes auditivos, na faixa etária de zero (0) a vinte e seis (26) anos, desde a estimulação precoce até a 8º Série do 1º grau.
Anteriormente oferecia, também, cursos profissionalizantes, que por falta de recursos foram desativados. Atualmente os alunos são encaminhados ao SENAC e SENAI-RS. Nestes dois locais os professores do CAEDA auxiliam os professores a ministrar suas aulas (dão treinamento).
O CAEDA conta com uma equipe de técnicos formada por uma médica otorrinolaringologista, duas psicólogas, duas fonoaudiólogas, uma assistente social, duas terapeutas ocupacionais, uma nutricionistas e mais o corpo docente. Há também estagiários do IMEC (fonoaudilogia e terapia ocupacional) e FADERGS. Também existe um grupo da ACM para realizar recreação na escola.
Todos os professores têm cursos preparatórios para Deficiente Auditivos, oferecidos pelo governo, alguns têm formação no La Salle, em Canoas, e em outros locais, sendo que estão continuamente se atualizando.
O professor que ingressou mais recentemente na escola está com quatro anos de trabalho no CAEDA. A maioria dos professores possui mais de seis anos na escola.
O CAEDA também oferece cursos de LIBRAS - Linguagem Brasileira de Sinais - para a comunidade.
Além das aulas, os alunos também fazem teatro, oficinas de recreação, aulas de comunicação, consultas com fonoaudiólogas e são encaminhados para diagnóstico e tratamento especializado. Existe também Grêmio Estudantil e escolinha de futebol.
A escola é gratuita, bem como a assistência especializada (Clínica).
A Clientela é de baixa renda, sendo o ingresso dos alunos realizado mediante triagem feita pela Assistência Social diretamente com a família. A assistente social encaminha o aluno para ser avaliado pela médica otorrinolaringologista e, esta, encaminha-o para a fonoaudióloga e para avaliação conforme cada caso.
A FADERGS dá o atendimento em locais especializados, sendo um destes locais, o HCPA (Hospital de Clínicas de Porto Alegre).
A escola organiza seu currículo em séries, em consonância com os princípio da educação especial, diretrizes legais vigentes e fins e objetivos da escola. As bases curriculares fazem parte desse regimento.
A organização curricular estrutura-se a partir da realidade do aluno e da comunidade, com base em pressupostos teóricos compatíveis com a filosofia da escola, através da qual o aluno é estimulado sob todas as formas da comunicação, com vistas à integração na comunidade e no mercado de trabalho.
O currículo é desenvolvido de acordo com as características do deficiente auditivo, visando o resgate de sua comunicação através da integração entre experiências concretas e conhecimentos sistemáticos, sendo completado com o desenvolvimento da linguagem.
Segue-se o currículo igual ao da escola regular, ou seja, as matérias e conteúdos são as mesmas ministradas aos alunos ouvintes, apenas é feita algumas adaptações.
As aulas são desenvolvidas em apenas um turno (manhã ou tarde), a carga horária é a mesma estabelecida pela SEC-RS.
Quanto à avaliação, esta é feita continuamente, sendo que de 1º a 4º séries é feita através de parecer descritivo. Da 5º à 8º Séries é feita mediante nota, com média igual à seis (6). Como processo sistemático, diagnóstico, controla e avalia o rendimento escolar do aluno, conjugando aproveitamento e assiduidade.
Na avaliação do desempenho escolar, os aspectos qualitativos preponderam sobre os quantitativos.
Os resultados da avaliação do aproveitamento das classes de séries são fornecidas aos pais ou responsáveis periodicamente (bimestralmente)
OS alunos sentam-se em semicírculos para possibilitar uma melhor compreensão das aulas.
Quanto ao número de alunos por turma considera-se ideal: até seis alunos na pré-escola (porém atualmente o CAEDA possui oito alunos por turma), na 5º a 8º séries o ideal seriam até 10 alunos (porém trabalha-se com 15 alunos).
A maioria dos alunos tem diagnóstico de surdez profunda.
A escola CEDA oferece educação gratuita, merenda, passagem escolar e a FADERGS oferece material didático. Os professores auxiliam na compra de material e nas promoções da escola.
Existe também o APAC (Associação de Pais e Amigos do CAEDA) que promove alguns eventos, tais como: festas juninas, etc..
Quanto às verbas a escola conta com doações da SEC, pois existem professores do Estado cedidos para a FADERGS, professores Celetistas contratados pela FADERGS e técnicos do Estado e técnicos Celetistas cedidos pela FADERGS. Também conta com promoções desenvolvidos pelo Rotary e APAC.
Em anexo tem alguns modelos de planejamento de aula por séries, igualmente tem um folheto explicativo do CAEDA, o qual é distribuídos aos visitantes na escola.
Quintas-feiras o CAEDA fica aberto para visitações.
Alguns alunos participam de apresentações artísticas, eventos e palestras junto à comunidade, e estão, sempre que solicitados, dispostos à prestar depoimentos e palestras.
II - CENTRO EDUCACIONAL PARA DEFICIENTES AUDITIVOS - ESCOLA ESPECIAL CONCÓRDIA:
A Escola Especial Concórdia situa-se à Av. Dr. João Simplício Alves de Carvalho, n.º 600, Bairro Vila Ipiranga, fone: 341-2039/341-6061.
Existe há mais de vinte anos e é reconhecida pela SEC-RS e Conselho Estadual de Educação.
Os presentes dados foram levantados junto à professora e coordenadora educacional Sra. Gladys Titton.
O Currículo mínimo é igual ao currículo ministrado aos alunos "ouvintes" matriculados no ensino regular e previsto pela SEC-RS.
Existe a disciplina de logopedia trabalhada com fonoaudiólogas a partir da 5° série, porém antes da 5º série a Logopedia também é trabalhada (não como disciplina).
Este ano iniciou-se o estudo de linguagem de sinais e este estudo é ministrado por um professor surdo.
Os alunos saem habilitados para competir no vestibular.
A escola oferece turmas em pré-escola, 1º e 2º graus.
A metodologia do ensino segue o método de experiências através da interação com objetos. É dada ênfase na aquisição da linguagem oral e com sinais.
A maior percepção dos alunos é proveniente do que vêem, pois na sua maioria possuem surdez severa à profunda.
A matrícula é realizada mediante triagem com entrevistas junto à psicólogo, fonoaudióloga e assistente social. Após o ingresso as crianças pequenas vão para o programa de pais. Acima da 2º série os alunos vão para a sala de aula.
Após entrarem na sala de aula os pais têm um mês para efetuarem a matrícula. Se a criança e a família se adaptarem, a matrícula é efetiva.
A escola preocupa-se com os pais, para que façam parte e conheçam a escola. Os pais participam de todo o processo educativo. Têm todas as informações para atender a criança em casa, na escola e na comunidade.
O turno de aula é de quatro horas e, a partir da 5º série, os alunos passam 4 horas e 40 minutos nas aulas.
Até a 3º série segue-se unidodência, na 4º série é por área: estudos sociais, matemáticas e língua portuguesa. Na pré-escola existem atividades psicomotricidade, fonoaudiologia e religião (Confissão Luterana). A partir da 1º série os alunos têm aulas de artes.
Mesmo tendo um professor regente os alunos têm outros profissionais que atuam junto à eles.
No ensino regular uma criança deveria ter 7 anos para ingressar na 1º série. Na escola Concórdia a criança não têm idade para ingressar na 1º série. O determinante é mediante uma avaliação psico-lingüística.
A estrutura do ensino segue a seguinte seriação:
- 2º à 8º séries.
- 2º ano
- 3º ano
Quanto à avaliação: a partir da 1º série a avaliação segue nota (conceitos) e parecer descritivo. A partir da 5º série é considerado nota com média igual a seis. Abaixo da 1º série (pré-escola) considera-se o parecer descritivo.
As aulas são ministradas em turno (manhã e tarde), os pais não têm opção de escolha de turno.
Quanto ao número de alunos por turma considera-se, no regimento interno, até 10 (dez) alunos na pré-escola, até a 4º série, porém na escola as turmas possuem, no máximo 8 (oito) à 14 (quatorze) alunos inscritos.
Na opinião da professora Gladys o ideal seriam turmas de sete (7) alunos.
No maternal as turmas possuem cinco (5) alunos.
As salas são pequenas (espaço físico) e os alunos sentam-se em semicírculos para facilitar a linguagem orofacial e gestual.
Da 8º série em diante os alunos sentam-se em filas.
A partir da 4º série existem as salas ambientes para a disciplinas de geografia (três salas), história (duas salas), português (uma sala) e matemática (duas salas). Com isso, o professor tem condições de organizar seus alunos.
Quanto à formação dos professores: atualmente o nível de formação dos professores para deficiência auditiva no Rio Grande do Sul é realizado em Santa Maria (Curso de nível Superior para formação de professores de 1º a 4º séries), em Canoas no La Salle, em Novo Hamburgo na FEVALE, e mediante cursos de extensão ou adicionais; de dois para cá (1995...) o governo vêm oferecendo cursos preparatórios para deficiência auditiva para professores para professores atuarem somente até a 4º série do 1º grau.
No Rio Grande do Sul apenas duas escolas de educação para deficientes auditivos oferecem nível de 2º grau. A concórdia foi pioneira, a outra escola fica em Esteio.
No Concórdia existem dois professores formados em Santa Maria, dois Professores formados no Rio de Janeiro, à nível de 3º grau. Os demais professores possuem cursos adicionais do governo e de extensão em faculdades. Todos os professores são treinados na escola. Apenas dois professores não possuem o 3º grau, sendo que um atua na biblioteca e outro é professora alfabetizadora.
Todos os professores da escola têm que conhecer a língua de sinais. Os professores da pré-escola até a 4º série passam por estágios. Ficam em média um ano como professores auxiliares.
A partir da 5º série têm que formar o professor enquanto estiver atuando.
A rotatividade dos professores é muito pequena.
Quanto a metodologia a escola segue o método de experiências, sendo que a filosofia da escola consiste na comunicação global.
Quanto aos recursos a partir de janeiro a ULBRA assumiu a escola. A escola subsiste através de Bolsas de Estudo da SEC-RS, bolsas do FGTA’S (antiga LBA), bolsas da ULBRA. Faltam aparelhos auditivos para os alunos da escola (aparelhos de amplificação coletivos).
Dos 215 alunos matriculados, apenas 28 alunos pagam mensalidades. Os professores não sabem quem paga ou não.
A escola atende alunos na faixa etária de 1 ano e 3 meses à 28 anos de idade.
Existem nove professores cedidos pelo Estado SEC-RS.
Uma aluna do 4º semestre de informática na ULBRA leciona informática e processamento de dados na 7º e 8º séries.
A escola oferece à nível de 2º grau os seguintes cursos profissionalizantes: desenho arquitetônico e informática.
Os conteúdos trabalhados em sala de aula são iguais aos dos alunos ouvintes.
A avaliação é bimestral.
A escola emite histórico e atas curriculares para a SEC-RS.
CONCLUSÃO
A educação para deficientes auditivos requer uma metodologia baseada em suas experiências concretas, visando a comunicação oral e gestual, pois a maior parte do que apreendem vêm daquilo que conseguem ver e sentir.
Em ambos as escolas as turmas são pequenas para facilitar a comunicação e o aprendizado. Também os alunos senta-se em semicírculos para facilitar a leitura oro-facial e gestual.
Os professores em ambas as escolas possuem treinamento para atuarem com deficientes auditivos.
Os conteúdos trabalhados em sala de aula são os mesmos que a SEC-RS prevê para o ensino regular, apenas a maneira como são trabalhados difere.
Ambas as escolas contam com alguns professores cedidos pela SEC-RS, embora entre as escolas existam diferenças: no CAEDA há falta de professores, sendo que alguns utilizam horas além de suas turmas para atenderem determinadas disciplinas às quais não haveriam professores substitutos. Já na escola Concórdia o mesmo não ocorre, podendo os professores contarem com maior tempo disponível para elaborarem suas aulas.
No Rio Grande do Sul poucas escolas estão habilitadas para atenderem deficientes auditivos, sendo que apenas duas escolas oferecem 2º grau. Também os cursos profissionalizantes são poucos e, alguns, inclusive, são ministrados pelo SENAI e SENAC.
Assim, conclui-se, que a educação como um todo enfrenta dificuldades, cabendo à nós educadores grande responsabilidade em buscar alternativas e soluções para tais dificuldades. A educação para deficientes auditivos, em muitos casos, necessita de um acompanhamento mais individualizado, mas em casos de menor grau de perda auditiva, a criança com uso de aparelhos de amplificação, e com boa vontade e dedicação do professores, pode estudar também numa sala de aula com os demais colegas ouvintes; sempre em ambas as escolas, quer seja especial para deficientes auditivos, ou para ensino regular.
Cabe salientar, também, a importância da participação da família, visto que o aluno passa maior parte de seu dia com a mesma, sendo que na escola passa, geralmente apenas um turno de aula.
E, como um todo, a educação visa integrar o aluno à comunidade, sociedade, trabalho e à família.