UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DO ENSINO DE 1º E 2º GRAUS

RELATÓRIO DE OBSERVAÇÃO
ESCOLA ESTADUAL DE 1º  GRAU ANNE FRANK
ALUNOS:
DENISE REQUENA DA COSTA
JOEL MARQUES CALEGARO

 APRESENTAÇÃO
 RAZÃO E OBJETIVO DA OBSERVAÇÃO

        Motivados pela curiosidade de conhecermos mais sobre o funcionamento de um estabelecimento de ensino, bem como, por um dos componentes do grupo estar fazendo pesquisa na área do grupo de estudos sobre universidade, escolhemos observar na escola, principalmente, a organização curricular. É sobre este assunto que versará, principalmente, nossa observação. Os dados aqui apresentados referem-se ao curso de suplência. Será mostrado adiante: a organização do currículo, como foi construído, a carga horária, organização das disciplinas, avaliação e recuperação.

ESCOLA ESTADUAL DE 1o GRAU ANNE FRANK

- LOCALIZAÇÃO
        A escola Anne Frank está situada na avenida Cauduro, 238. Entretanto, de avenida não tem nada, pois é apenas uma rua de mão única e estreita, com a forma de um "L" invertido, ligando a avenida Osvaldo Aranha a rua General João Telles. O vértice do "L" invertido é onde a escola está localizada. no bairro Bom Fim da cidade de Porto Alegre-RS.
        O bairro Bom Fim, zona urbana da cidade e próximo ao centro, possui características comerciais principalmente no ramo mobiliário. Isto, em parte, atribuído a uma concentração de imigrantes israelenses que ali formaram uma comunidade judaica.
        Esta concentração é originada principalmente de imigrantes fugidos do continente europeu por ocasião da 1a e 2a Guerras Mundiais.

- BREVE HISTÓRICO

        Fundada em 1o de abril de 1966, tendo como 1a denominação: “Grupo Escolar Anne Frank”. Situada a travessa Cauduro, s/no, com 1 bloco inicial de 4 salas. Possuía as seguintes instituições: biblioteca, gabinete de psicologia e serviço social, cooperativa e audio-visual, contando também, com professores especializados em educação física e arte. Seu primeiro diretor foi a professora Atoalpa da Silva Paz e seu primeiro aluno Céres Salazar na 1a série. Foram matriculados 215 alunos para aulas nos dois turnos de 1a a 5a séries e três adiantamentos de jardim de infância, de 4 a 6 anos.
        Pelo Decreto de no 18.400, assinado pelo Governador do Estado, Dr. Ildo Menegheti, a 25 de janeiro de 1967, foi criado o Grupo Escolar de 2a categoria, 5a entrância – Anne Frank..
        O nome dado foi uma homenagem que os Governos Estadual e Municipal quiseram prestar à coletividade judaica de Porto Alegre, na pessoa de uma adolescente de nome Anne Frank, que mesmo vivendo os momentos mais difíceis da 2a Guerra Mundial, nunca sentiu ou demostrou esmorecimento.
        Apesar dos sofrimentos de uma reclusão forçada, no sótão de uma casa velha, jamais permitiu que o desânimo e a tristeza a derrotassem. Significou seu nome uma força animadora para todos que com ela conviveram. Foi seu nome escolhido como símbolo de otimismo, para acionar a todos os homens. É usando do exemplo de idealismo da jovem patrona da escola, que as atividades de ensino são planejadas, programadas e executadas.
Em 13 de maio de 1968 foi instalado o Curso Supletivo. Em junho foi eleita a 1a Diretoria do Grêmio Estudantil Anne Frank do Curso Supletivo.
        Em 21 de junho de 1968 deu-se a fundação da Associação de Pais e Mestres do Grupo Escolar Anne Frank.
        Em 8 de outubro de 1968 inaugurou-se oficialmente as dependências completas, perfazendo 15 salas de aula e demais departamentos com a presença do Governador do Estado Cel. Walter Peracchi de Barcelos. Nesta ocasião foi cantado pela primeira vez o hino da escola, letra de Jessé Madureira Coelho e música de Cecilia Ferreira.
        Em 1967 houve a implantação de classes de sexta séries, para atender os alunos da escola oriundos da quinta série. Também foi implantado a Reforma de Ensino junto ao Curso Supletivo, atendendo a resolução 96/72 do Conselho Estadual de Educação e normas estabelecidas pela Secretaria da Educação e Cultura - S.E.C.
        Em 1974 foi implantado às 7a séries, conforme parecer 110/74 e autorizado o funcionamento pela Portaria no 13381/74. Foi também, autorizado, conforme Parecer 351/74 do Conselho Estadual de Educação, o funcionamento do Curso Supletivo de Educação Geral, Etapa III e IV.
        Em 1975 foram implantadas às 8a séries, conforme parecer 584/75, e formada a 1a turma de concluentes do 1o Grau.
        Em 1976 se comemorou o 10o aniversário da escola. Neste mesmo ano a escola foi vitimada por incêndios em suas dependências perdendo toda sua documentação.
        Em 26 de novembro de 1977 altera-se a designação de Grupo Escolar para Escola Estadual de 1o Grau Anne Frank..
Em 18 de outubro de 1978 foi fundado o Grêmio Estudantil Anne Frank.
 

- O PRÉDIO

        Sua construção é simples, com traços retos, em alvenaria, pintada, com um pavimento térreo e um superior em bom estado de conservação. O pavimento térreo não possui janelas para a rua, só uma porta, de perfil metálico e vidros liso, que dá acesso de entrada e saída. A parte superior que fica à vista para a rua, está coberta por janelas tipo basculante com vidros tipo canelado ou martelado. À esquerda da entrada está a sala da direção, vice-direção, secretaria e mais algumas salas de encontros e recepção para visitantes, onde fomos recebidos. À direita, está a sala de professores, com um cartaz onde está escrito para as pessoas aguardarem até serem atendidas. Mais adiante, um bar (cantina) e ao lado deste, a cozinha e o refeitório. No refeitório é servido lanches para os alunos até às l9h e 15min. No lado oposto ao bar e a cozinha, separados por uma saguão, está a sala de vídeo e a biblioteca.
        A sala de vídeo está equipada com cadeiras estofadas (mais ou menos 40 lugares), videocassete, televisão (aproximadamente 50 polegadas) e codificador para antena parabólica e televisão por assinatura.
        A biblioteca possui duas salas, uma para leitura com quatro mesas redondas e cadeiras, e outra com o acervo. Observamos livros de todas as categorias e áreas de estudo, mas no que corresponde a Ciências Sociais, apenas alguns exemplares de uma revista de ciências humanas.
        Sobe-se ao pavimento superior por uma escada já vista na entrada da escola. Neste pavimento estão as salas de aula. A maioria, com aproximadamente 30 a 40 lugares, com classes (carteiras) e cadeiras pouco conservadas, com paredes riscadas pelos mais variados tipos de materiais. Também há, nestas paredes, vários cartazes da disciplina Formação à Cidadania. Nos fundos da escola está o pátio com uma quadra esportes.

- ATOS ADMINISTRATIVOS:
        Criação: Decreto no 18.400 de 25/01/67
        Ano de Funcionamento: 1966
        Reorganização: Decreto no 6498 de 23/12/77
        Instalação do Curso de Suplência: 13/06/68
        Reforma do Curso de Suplência: Resolução CEE 96/72
        Autorização de Funcionamento do Curso de Suplência: Parecer 351 de 18/04/1974 e Portaria SEC no 18.519 de 26/09/1988
        Regimento Escolar: Parecer no 127/81 URE/SEC e Portaria no 17.306 NAA/SUA/SEC de 26/03/1991
        Regimento Escolar: Parecer no 137/90 URE/SEC

- NÚMEROS DA ESCOLA

        Professores Regentes: 59
        Professores no curso de Suplência de 1º Grau: 14
        Professores no curso de Suplência de 2º Grau: 14
        Professores Especialistas: 04
        Total de professores: 91
        Total de funcionários: 11
        Alunos matriculados no curso de Suplência em 1998: 395
        Evasão de alunos no curso de Suplência: 63 = 15,95%

- ORGANOGRAMA

        Conforme organograma fornecido pela escola (em anexo), ela dispõe de várias divisões que comportam as necessidades de uma unidade escolar. Contudo, não conseguimos observar se todas tem funcionamento efetivo.

- FUNCIONAMENTO DA ESCOLA

        A escola oferece, no ensino regular, classes de pré-escola, classes de ingresso precoce para alunos altamente capazes e primeiro grau completo, distribuídos nos turnos da manhã e da tarde. No turno da noite a escola oferece o curso de Suplência de 1o e 2o Graus (supletivo).

- HORÁRIO DAS AULAS NO PERÍODO NOTURNO

        Inicia às 19h e 15min, com dois períodos de quarenta e cinco minutos cada, a seguir um intervalo de quinze minutos, seguidos de três períodos de quarenta minutos cada, onde, quase sempre, o período que deveria terminar as vinte e três horas, tem seu término adiantado em cerca de quinze minutos visto como normal pelos professores e direção da escola, e tomado como direito pelos alunos.

- OBJETIVO GERAL DA ESCOLA

        Integrar o educando à sociedade, de forma solidária, reflexiva, participativa e responsável, auxiliando-o a :
- integrar-se na comunidade a que pertence;
- tornar-se um elemento capaz de analisar, criticar e avaliar os acontecimentos sócio-econôrnico-culturais da nação e do mundo,
- desenvolver-se de modo criativo;
- participar ativamente do processo de sua educação;
- exercer uma ação transformadora buscando o bem estar comum.

- IMPORTÂNCIA DA ESCOLA PARA A COMUNIDADE

        Possui grande importância no contexto comunitário em termos de liderança e atendimento ao alunado. Mantém convênios com diversas instituições: Associação Israelita, Sociedade Ítalo-Brasileira, Casas de Espetáculo, Parque Farroupilha, Igreja Santa Terezinha, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Hospital de Clínicas e diversas firmas comerciais e Instituições
        Bancárias da área geográfica onde está inserida.
        Partindo de uma realidade anterior, que se constituía no atendimento da clientela do bairro, hoje a Escola Anne Frank atende alunos provenientes de várias áreas geográficas da Grande Porto Alegre, justamente pela proposta pedagógica oferecida pela instituição.

- PROPOSTA PEDAGÓGICA

        Fundamenta-se em duas dimensões básicas:
- dimensão filosófica - o homem que queremos formar;
- dimensão metodológica - o fazer pedagógico.
        A primeira dimensão trata da educação do homem moderno, integrado ao mundo como cidadão partícipe, reflexivo, crítico, cuja ação política seja a de transformar o meio, exercitando valores sociais e morais, alicerces da sociedade.
        Na dimensão metodológica, busca-se uma relação de troca professor-aluno-meio, baseada no respeito, no afeto, no diálogo e no entendimento, que para a escola são fundamentais na trajetória da construção do conhecimento.
        A ação educativa deve partir do quotidiano do aluno, instrumentalizando-o, para que seja capaz de efetuar trocas cada vez mais elaboradas com a sua realidade, apropriando-se do conhecimento universal. Desta forma, o conhecimento dependeria de uma elaboração permanente do aluno: ele constrói e reconstrói seus conhecimentos. Assim, o ensino deve ser um desafio que leve o aluno a estruturar e a reestruturar seu pensamento, compreendendo e interpretando a realidade cada vez de forma mais útil e coerente. Da mesma forma, o professor deve ter a consciência da importância do seu trabalho, direcionando o processo pedagógico e resgatando sua figura como modelo referencial.
        Metas:
- Realizar reuniões semanais com professores e mensais com o Conselho Escolar visando o diálogo e maior entrosamento com a comunidade escolar.
- Dar continuidade ao programa de merenda escolar.
- Manter atualizada a documentação dos alunos, dos professores e funcionários.
- Administrar o patrimônio público de uso da escola.
- Efetuar matrículas e rematrículas atendendo diretrizes da Secretaria de Educação.

- OBJETIVOS PEDAGÓGICOS

        Promover reuniões pedagógicas sistemáticas do corpo docente, por segmento e ou por disciplina, oportunizando, através do serviço de supervisão escolar - SSE, crescimento e melhoria da qualidade do trabalho desenvolvido.
Buscar subsídios teórico-práticos que visem a capacitação de recursos humanos, com vistas à melhoria do ensino, através de
        Jornadas Pedagógicas, palestras, encontros, seminários e outros, utilizando-se de profissionais da própria escola e da sociedade.
        Manter a continuidade no planejamento vertical e horizontal dos conteúdos no currículo escolar.
        Realizar com o aluno outras experiências culturais que complementem os estudos curriculares, como: passeios; visitas, sessões de teatro, cinema, música, eventos cívicos e esportivos.
        Incentivar atividades curriculares que visem o aprofundamento do conhecimento tais como: feira de ciências, coral, gincanas culturais, concursos literários, júri simulado e festivais de música.
        Implementar o pleno uso do Laboratório de Ciências.
        Atualizar, ampliar e organizar o acervo bibliográfico da escola.
        Oportunizar aos alunos o uso do Laboratório de Informática como recurso pedagógico.
        Dar continuidade ao sistema de parcerias com a UFRGS, PUC, SENAC, SENAI, SESI, Hospital de Clínicas e Centro lnterescolar Darcy Vargas.
        Oferecer oportunidade de estágio aos alunos das Faculdades de Educação.
        Integrar o Grêmio Estudantil com a direção para a realização de programas de interesse do corpo discente.
        Assessorar o corpo docente e a direção no manejo frente à desadaptação do aluno ao ambiente escolar como também, dificuldades de aprendizagens, detectadas nas vivências curriculares.
Encaminhar a atendimento especializado alunos com dificuldades específicas vinculadas ao serviço de orientação educacional - SOE.
        Atuar junto aos alunos, orientando-os na escolha de seus representantes.
        Incentivar a participação de pais.
        Manter o serviço de audiovisual que atenda às solicitações do corpo docente.

- INDICADORES DE APROVAÇÃO, REPROVAÇÃO E EVASÃO

        Conforme os resultados obtidos nos anos de 1994 e 1995, a escola constatou que, em 1994, houve um índice de 20,34% de reprovação no Ensino Regular, com maior concentração desta, na quinta série.  Em 1995, o índice de reprovação foi de 15,14% sem concentração em nenhuma série específica. Por estes dados, constatou-se a diminuição desses índice em decorrência do trabalho que foi realizado durante todo o ano letivo de 1995, pelos profissionais que atuam na série.
No Curso de Suplência, o índice de reprovação por disciplina, fica em torno de 10%, já o índice de evasão reporta-se à casa dos 50%, ao ano, fatores que se devem as dificuldades sócio-econômicas, familiares e emocionais. Estes dados encontram-se defasados em vista de não terem sido aprontados ainda o novo Plano Integrado da Escola-P.I.E.

- PRIORIDADES

        Reformulação de Regimento Escolar, com vistas à inclusão do Estatuto da Criança e do Adolescente, do Conselho Escolar, das Classes de Ingresso Precoce, do Curso de Suplência e do Laboratório de Informática.
Melhoria da Qualidade do Ensino.
        Capacitação de Recursos Humanos.

- OPERACIONALIZAÇÃO E AVALIAÇÃO DO PLANO INTEGRADO DA ESCOLA-P.I.E.

        A operacionalização deste plano far-se-á através de reuniões semanais, com os professores e mensais, com o Conselho Escolar e/ou com outros segmentos para planejar, reformular e avaliar a execução do mesmo, instrumentalizando os profissionais e unindo esforços em torno do objetivo comum, que é o pleno desenvolvimento do aluno.
        A avaliação do plano é contínua, realizando-se a cada reunião onde tem como meta analisar os objetivos alcançados, podendo, a qualquer momento, ser reformulada.

- JUSTIFICATIVA

        Em atendimento ao disposto na Lei 10.576 de 14/11/95, que determina a elaboração do Plano Integrado da Escola-P.I.E, nas áreas administrativa, financeira e pedagógica, em consonância com as políticas públicas vigentes, alicerça a proposta que norteará as linhas de ação da Escola Anne Frank.
        Em atendimento ao disposto referido, nas bases das Leis 10.576/95 e no 9.394/96 mais os Parâmetros Curriculares Nacionais-PCN e o Padrão Referencial de Currículo-PRC é elaborado o Plano Integrado da Escola Anne Frank.
 

DESCRIÇÃO DOS DADOS
METODOLOGIA UTILIZADA

        Descrição de como foram coletados os dados: o primeiro contato feito com a escola foi através de telefone. Através de um de nossos colegas, que já realizou seu estágio curricular nessa escola, tomamos conhecimento da professora responsável pela disciplina de Formação à Cidadania. A partir de então, comparecemos a escola e conversamos com a professora coordenadora do noturno professora Tânia. Por seu intermédio, fomos encaminhados a professora Maria Lúcia, responsável pelo Serviço de Supervisão Escolar-SSE. Desta professora, recebemos as informações para realização deste trabalho. Ela também nos encaminhou a professora Julieta, responsável pela disciplina de Formação à Cidadania, que também nos forneceu subsídios para o trabalho. Na mesma noite (dia 27/08/98, quinta-feira) em que conversamos com a professora Julieta, nos interessamos em assistir uma de suas aulas, motivados por ser uma disciplina referente ao curso de sociologia ao qual estamos cursando. Depois desta quinta-feira, retornamos na seguinte (dia 03/09/98) e conversamos novamente com a professora Maria Lúcia, com a professora Julieta, assistimos mais uma vez sua aula de Formação à Cidadania e entrevistamos os alunos.
Instrumento utilizado e como foi montado: utilizamos um questionário por nós formulado referente ao nosso assunto de interesse (em anexo).
        Técnica utilizada: observamos a escola, fizemos leituras na biblioteca junto ao acervo dos documentos da escola e entrevistamos professores, coordenadores e alunos.
        Tempo de duração das entrevistas: para as entrevistas com os coordenadores e professores levamos duas noites e para os alunos levamos uma noite.
        Tempo de duração das leituras: para as leituras na biblioteca levamos duas noites.
        Tempo de duração da observação da escola: para a observação da escola levamos duas noites.
        Tempo de duração da aula de Formação à Cidadania: 90 minutos, sendo realizado em duas vezes, em períodos de 45 minutos em cada noite.

- COMENTÁRIOS A CERCA DA METODOLOGIA

        Sobre a metodologia utilizada: consideramos pertinente, pois oportunizou-nos um primeiro contato com uma Escola, fato que até o momento nenhuma cadeira nos havia permitido tal experiência.
        As dificuldades encontradas: não houveram barreiras nem impedimentos que nos limitassem o acesso a escola e as informações por nós solicitadas.

- CURSO DE SUPLÊNCIA

        Objetivo: proporcionar a oportunidade de suprir a escolarização para adolescentes e adultos que não tenham seguido, ou concluído, em idade própria, de forma adequada, as suas características e necessidades, através de uma metodologia condizente a sua pessoa.
        Aulas: são ministradas com objetivos e metodologias condizentes a esta clientela. Contudo, como é de se esperar, as turmas do supletivo são heterogêneas.
        O ensino supletivo de 1o 2o graus nesta escola: está dividido em etapas. O aluno pode inscrever-se em quantas disciplinas julgar que possa cursar levando em consideração os horários das disciplinas, carga horária e necessidade de currículo do 1o e 2o graus para sua diplomação.
        Os Módulos ou também chamadas Etapas, estão assim distribuídos:
Etapa I  - corresponde a 5a e 6a séries do 1o grau
Etapa II  - corresponde a 7a e 8a séries do 1o grau
Etapa III  - corresponde ao 1o e 2o ano do 2o grau
Etapa IV  - corresponde ao 3o ano do 2o grau
        Quanto aos conteúdos: podemos dizer que são ministrados todas as disciplinas obrigatórias tais como: português, matemática, física, química, etc (ver em anexo). Tem-se também as disciplinas de Formação à Cidadania na etapa II e IV e Sociologia na etapa III.

- PERFIL DOS ALUNOS NO CURSO DE SUPLÊNCIA

        A faixa etária dos alunos, no Curso de Suplência, vária dos quinze aos sessenta anos, centralizando-se na faixa dos dezesseis aos vinte e cinco anos. Conforme dados da escola, este grupo situa-se na pirâmide social das classes média e média baixa.

- CONTEÚDOS DAS DISCIPLINAS DE SOCIOLOGIA E FORMAÇÃO À CIDADANIA
SOCIOLOGIA
1) Análise de temas conjunturais relevantes.
2) Níveis de consciência.
3) Ideologia.
4) Classes Sociais.
5) Capitalismo.
6) Formas Cooperativas de Produção
7) Formas - Instituições que conformam a sociedade:
- igrejas,
- sindicatos,
- cooperativas.
8) Meios de Comunicação Social.

FORMAÇÃO À CIDADANIA
1) Análise dos principais problemas sociais.
2) Princípios fundamentais da Constituição.
3) Constituição: Direitos sociais.
4) Constituição- Direitos individuais e coletivos.
5) Política.
6) Partidos políticos.
7) Direitos dos trabalhadores.
8) Poderes Constitutivos do Estado.
9) Relação entre Capital e Trabalho.
10)Exclusões sociais:
 - o negro,
 - o índio.
 

REALIDADE

- A TURMA OBSERVADA

        Nossa curiosidade por assistir uma aula se deu logo no primeiro contato que tivemos com a Profa Julieta, responsável pela disciplina Formação à Cidadania.
        Conversando com ela, nos detalhou o assunto que estava tratando - Estatuto da Criança e do Adolescente-ECA - e ficamos bastante interessados em saber como os alunos trabalhavam essa questão.
        Logo que entramos na sala de aula a professora Julieta nos apresentou para a turma. Explicou que éramos alunos da UFRGS e que estavamos ali para observar sua aula.
        Na sala de aula, observamos que as faixas etárias eram bastante heterogêneas, fato este, que talvez possa ser explicado pela própria situação da escola, isto é, ensino supletivo.
        A professora iniciou a aula perguntando aos alunos quem iria apresentar o seu trabalho primeiro. Na aula anterior eles já tinham realizado leituras de textos fornecido pela professora, que era sobre o trabalho infantil.
        Um aluno então estendeu o braço e começou a expor o que ele e  outra colega tinham obtido com a leitura. Ao acabarem a exposição a professora iniciou então a discussão do assunto.
        Poucos se manifestaram, parte ficou calada e a outra fazia tarefas que não eram pertinentes a aula. Como sabemos? Pelo “tititi” que escutamos enquanto a professora discutia com o grande grupo.
        Dentro deste debate tinha um aluno que “roubava” a vez dos outros colegas falarem. Muito disposto, debatia e dizia que infelizmente o que estava escrito no ECA não era o que se praticava. Este aluno se salientou tanto que acabamos descobrindo o seu nome – Alvarino.
        A professora pediu então para que outro grupo apresenta-se seu trabalho. Ficaram num jogo de empurra-empurra para ver quem afinal ia apresentar. Finalmente escolheram o “fantasminha”, denominação dada pelos próprios colegas de aula.
         Este rapaz fazia parte de um grupo que estava sentado bem atrás na sala. Era mais ou menos umas oito pessoas sentadas em fila, um ao lado do outro.
        Seu nome verdadeiro era Marcos, ficamos sabendo na hora que a professora chamou sua atenção para que ele começasse então a falar. Começou a ler o trabalho feito pelo grupo. Fazia várias paradas durante a leitura e dizia – “ Sôra!         Não tô entendendo aqui o que ela escreveu!...”. A colega ao lado então lia para ele. Foi assim, com bastante dificuldade, que ele finalizou sua exposição num espaço de tempo muito curto, sendo extremamente reticente em sua exposição. Falamos dificuldade, pelo fato de que além de ler com muita dificuldade, ele também se expressava da mesma forma. Após sua exposição relatou sua experiência de vida como empregado do Supermercado Zaffari e as “regalias” que ele dizia ter como empregado.
        A professora, então, o questionou quanto à flexibilidade dos horários para quem trabalha, no supermercado, e também, qual era a idade mínima em que estavam admitindo os meninos que trabalhavam como empacotador.
        A partir de então, surgiu nova problematização muitos se manifestavam a favor outros contra e novamente Alvarino mostrou-se bastante saliente nas discussões.
        Quando o debate estava esquentando, tocou o sinal para troca de período.
        Na semana seguinte voltamos para acabarmos nossa observação e assistimos uma segunda aula. Esta estava ainda dando seguimento a aula anterior, ou seja, continuavam debatendo sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente, só que agora, o enfoque era prostituição infantil.
        No início da aula, a professora perguntou se alguém tinha ouvido uma reportagem na Rádio Gaúcha sobre prostituição infantil na rua José Bonifácio em Porto Alegre.
        Imediatamente, uma aluna resmungou algo que ela tinha escutado. A professora pediu então que ela falasse alto para que os colegas ouvissem o que ela tinha escutado na reportagem. Ela relatou aos colegas e logo após deu-se início a discussão.
        Novamente Alvarino abre a discussão. Com o ECA na mão, começou a falar que o culpado é o sistema.
        A professora então faz um alerta: “...estamos em época de eleição, vocês tem que ver bem em quem vão votar ...”
Alvarino reclama que o que esta escrito no ECA não se aplica.
        Surgiu então novas discussões, mas os que realmente participavam eram os mesmos da aula anterior. Então, novamente, a professora interfere no debate e pergunta a eles o que acham da Febem. Uma moça que estava sentava bem na frente reclama, outra sentada mais no fundo da sala contesta. Por alguns minutos os alunos ficaram relatando experiências, fatos e coisas pessoais,  sem a interferência da professora.
        Alvarino novamente fala – “.. ECA é um lixo dentro da Febem...”
        E assim segue-se a discussão sem que a professora interfira muito nas opiniões deles.
        Bate e temos que ir embora.
        A moça sentada atrás de nós reclama: “...agora que tava ficando bom, acaba...”
        A reportagem que esta anexa em nosso trabalho, nos foi dada pela professora Julieta em nossa última observação sob o título – “Corpos de nossas meninas”.
        Ao sairmos da sala, ficamos conversando um pouco, no corredor, com a professora Julieta. Nesta nossa conversa, ela nos declarou que gostava de deixar que os alunos falassem, que ela não gostava muito de interferir, pois eles já tinham passado um dia exaustivo trabalhando se ela começasse a cobrar muito deles, a aula não seria muito produtiva. Mas a pergunta que nos fica é: “Que tipo de alunos esta escola esta formando?”

- ENTREVISTA COM A LÍDER DE TURMA

        Depois de apresentados a turma no dia 27 de agosto, na segunda aula foi bem mais fácil de conversarmos com os alunos.
        Conversando com eles, descobrimos a líder de turma. Esta, chama-se Roseli, uma senhora de 43 anos que trabalha como agente penitenciário e que representa a turma para todo tipo de atividade dentro da escola. Segundo ela: “...resolvo os problemas quando tem...”
        Como nossa observação é, principalmente, sobre organização curricular, perguntamos a Roseli como ela vê o currículo da escola.
        Ela nos relatou que acha o ensino deficiente e que os alunos possuem dificuldades enormes: “...é uma coisa assim, se “pegá” “pegou,” o professor não explica muito”. Acredita que este fato se deve por ser ensino supletivo. Disse ainda, que muita gente não tem como fazer o vestibular com o que é aprendido na escola. Muitas vezes, ela e outros colegas, vão para casa e precisam ler outros livros para poderem entender a matéria. Mas como toda regra tem sua exceção, existe alguns professores, que não citou nomes, que repetem a matéria duas ou dez vezes se for preciso até que eles aprendam. Este fato depende muito do professor. Ela acredita que de todo percentual de conteúdo visto em sala de aula, eles conseguem “pegar” uns 70% da matéria.
        Falou também, que antes não se tinha o reconhecimento do espanhol como língua estrangeira (experiência própria). A solução era fazer todo o inglês como língua estrangeira, visto que somente este era reconhecido pela escola. Atualmente, já não é mais assim, reconhece-se também o espanhol.
Quanto as matérias, fazem somente a dependência da matéria que falta para completar seus estudos de segundo grau. Ela, por exemplo, estava fazendo apenas três matérias.
No que diz respeito a avaliação, acha que é “boa” a forma de avaliação da escola e que esta depende muito do professor. Sempre que surge um problema, eles conversam com o professor e tentam solucionar a questão entre eles sem envolver mais pessoas, como, por exemplo, pessoal da “direção” e outros.
Uma outra situação que ela colocou foi a questão da violência – drogas na escola.
No que se refere a estrutura do prédio, conforme relatado no início deste trabalho, é um fator bem preocupante, tanto para eles, enquanto alunos, como, também, para os professores. Ela cita ainda, que antes o pessoal ficava fumando (drogas) nos corredores e perturbava as aulas. Hoje, isso está acontecendo, mas com um grau de incidência bem menor. Neste relato, contou-nos que um dia estava trabalhando e em certa ocasião chegou um preso. Para sua surpresa, era um rapaz que estudava com ela. Então, a partir daí, segundo ela, se diz preparada para qualquer coisa que venha a acontecer na escola.
 
 

ANÁLISE DOS DADOS

        Condições de trabalho dos professores: em entrevista com a professora Julieta, ela nos fala da precariedade com que as pessoas que chegam ao curso supletivo, pois não possuem conhecimentos básicos de português. Nos comentou acerca dos erros graves de português que são cometidos nos trabalhos entregues pelos alunos. Fala, também, da dificuldade com que os alunos possuem para se expressar de forma clara. Segundo a própria professora: “...não dá para puxar muito a matéria”, pois considera que os alunos não tem condições para isso. (Em geral, todos trabalham durante o dia).
        Quanto a estrutura do prédio, a professora Julieta considera, no que tange as condições de trabalho, que não possuem segurança adequada. Nos revela que após às 22h a brigada militar faz ronda em frente a escola. Também revela, que há dificuldades em inibir o tráfico de drogas na escola, mas que já melhorou muito. Ela não se considera segura apenas com o zelador na porta da escola.
        O que não estão ensinando na escola: constatamos um “descaso” dos professores em fazer o aluno aprender. Falamos isso, pela constatação que fizemos em sala de aula. Os alunos da Etapa IV, que estão se formando ao final do ano, não sabem ler direito, quanto mais escrever. A professora Julieta, prepara, para suas aulas, textos já resumidos e com um baixo grau de complexidade para os alunos lerem em aula. Segundo ela, textos mais elaborados não são lidos pelos alunos e tão pouco compreendidos. Não estamos aqui querendo crucificar os professores, mas sim, relatar a realidade encontrada neste curso de suplência. Cabe então, nos perguntarmos que tipo de profissional está atuando enquanto conscientizador/formador de pessoas para o mercado de trabalho e principalmente que tipo de aluno estamos preparando para a sociedade. Nossa opinião, é a de que os alunos precisam receber bases curriculares mais fortes no que diz respeito a princípios fundamentais na educação, como, por exemplo, saber ler e escrever, sendo capacitados a entender o que estão lendo ou até mesmo o que pretendem escrever.
        Bibliografia estudada: conforme os textos por nós consultados, verificamos um grande debate em cima da questão dos PCN. Um dos poucos consensos identificados nas leituras é o de que segundo o parecer da Faculdade de Educação da UFRGS, os parâmetros curriculares nacionais não podem ser nacionais por diversos motivos. Um deles, é as grandes diferenças regionais.
        Acreditamos assim ser importante ressaltarmos o que Miguel Arroyo sugere no seu discurso, ou seja na verdade o que se precisa não é  uma nova proposta curricular e sim uma reestruturação da organização de nosso sistema escolar. Desta forma, talvez os PCN se preocupem mais com a escola, não uma escola enquanto um direito do indivíduo, mas sim da sociedade.     Pois o que esta em jogo neste emaranhado de políticas é a construção de um novo fazer pedagógico.
 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

        Um dos primeiros aspectos a salientar é quanto aos profissionais da educação, ou seja, os professores que atuam nas disciplinas são formados na sua área de especialização, isto é a professora de Formação à Cidadania é formada em Psicologia da Educação e o de Sociologia, é formado em Sociologia. Isto nos mostra que ao menos, os profissionais da áreas, estão trabalhando em suas áreas específicas, o que ajuda em muito a qualificar a qualidade do ensino oferecido.
        Um outro aspecto importante a ser ressaltado, no nosso entendimento, vem a ser a proposta pedagógica da escola. Isto é, ela tem toda uma dimensão filosófica - o homem que queremos formar e a dimensão metodológica - o fazer pedagógico.
        Contudo, difere do que nós presenciamos, apresenta-se uma realidade diferente e preocupante. Como já citado antes, os problemas que os alunos enfrentam no aprendizado, as questões da leitura, a assimilação da matéria e os próprios índices de reprovação, nos mostram por si só o perfil do curso de suplência. Então, pressupõe-se, é que o que está escrito no papel não está sendo aplicado.
        Segundo entrevistas feitas com os professores, a escola segue a legislação vigente, conforme a Lei de Diretrizes e Bases da Educação - LDB. Para tanto esta reestruturando do Plano Integrado da Escola, com vistas a qualificar sua proposta curricular tanto no que se refere ao conteúdo, metodologia e avaliação. Talvez a preocupação em reformular a sua proposta curricular esteja ligada ao fato da precariedade do ensino de suplência que esta sendo oferecido aos cidadãos.
        Desta forma, de todo o contexto vivo por nós na escola, pelas leituras feitas em aula, pelos debates poderíamos dizer que num panorama mais abrangente o sistema educacional precisa de valorização em todos os sentidos da palavra. Talvez a explicação para esta situação de crise da educação, esteja na próprio caráter centralizador que os parâmetros curriculares nacionais impõem à escola, onde torna-se importante ressaltar que as escolas passaram a ser “... apenas um local de trabalho individualizado e não uma organização com objetivos próprios e que isso decorre da degradação do sistema educacional brasileiro”. (CURY, 1996:35)

BIBLIOGRAFIA
 
        Cadernos de Educação – Currículo Nacional. Ano II, nº 5, 1ª Edição, Janeiro. 1997.
        Dossiê: parâmetros curriculares nacionais. Revista educação & realidade, Porto Alegre, v. 21, n. 1, p. 229-241. 1996.
        Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional-LDB - Lei no 9.394/96 de 20/12/96