UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA
DISCIPLINA: EDU 03334 - ESTRUTURA E FUNCIONAMETO DO ENSINO DE
1º E 2º GRAUS
PROFESSORA: MALVINA DORNELES
TÍTULO: Dança na Escola (Projeto de Pesquisa e
Relatório)
ALUNA: Andréia Paula Ferlin
N.º DE MATRÍCULA: 0349/93-9
PERÍODO: Janeiro de 1997 - 96/2
INTRODUÇÃO
De acordo com Dionísia Nanni, a
evolução e o progresso da dança através da
história não é aleatória. Obedece a padrões
sociais e econômicos, ou nascem da necessidade latente do homem de
expressar seus sentimentos e emoções, desejos e interesses,
sonhos ou realidade, através das formas mais diversa de dança.
Morgada Cunha, autora do livro "Dance Aprendendo, Aprenda Dançando",
justifica, por exemplo, a DANÇA CRIATIVA, que tem como uma de suas
principais características a identificação da estrutura
corporal, a descolberta da formação de uma imagem corporal.
"A dança criativa possuí características, valores
e finalidades eminentemente educativas, por isso ela deveria integrar os
currículos escolares desde a pré-escola até
a Universidade." (Morgada Cunha). Baseado em alguns autores, algumas observações
feitas com o Show Musical Anchieta Canto e Dança, entrevistas feitas
com responsáveis por grupos de dança em escolas e professores
de Educação Física, este documento objetiva ilustrar
algumas maneiras de trabalhar a dança na escola, tendo em vista
que considero a dança uma disciplina do corpo e com uma característica
multidisciplinar, ou seja, pode ser relacionada com várias disciplinas.
"A prática da teoria é uma forma de gravar de um conhecimento".
OBJETIVOS
Com o presente documento, objetivo verificar
como se desenvolvem os projetos de dança na escola, como estes projetos
estão integrados ao currículo escolar, e quais as possibilidades
de haver esta integração. Quais as condições
e como integrar a dança a outras disciplinas e ao currículo;
investigar quais os reais objetivos da dança na escola e como alcança-los.
METODOLOGIA
A pesquisa será realizada através
de uma revisão bibliográfica referente à dança
na escola. Tomarei como ponto de partida o Show Musical Anchieta Canto
e Dança, com o qual serão observados ensaios e apresentações
do grupo, realizando uma entrevista com a responsável pelo grupo,
alguns alunos e pais. Também serão realizadas entrevistas
com outros professores que já tiveram a oportunidade de realizar
vários trabalhos.
MARCO REFERENCIAL
A dança não é privilégio
de uma classe, nem tem apenas um objetivo. É o encontro de caminhos
para a auto realização, é o conhecimento das culturas
dos povos, é prazer, é uma homenagem que se deseja realizar
a qualquer pessoa ou grupo de pessoas, fazer alguém sorrir,...
Analisarei o trabalho de dança
realizado pelo Show Musical Anchieta Canto e Dança, e seguirei com
outros exemplos de dança em escolas, que podem ser idéias
que muitos já tiveram e não souberam como pôr em prática.
RELATÓRIO DE PESQUISA
HISTÓRICO DO MUSICAL ANCHIETA:
Partindo do Show Musical Anchieta Canto
e Dança, sendo um grupo de renome, decidi investigar o seu histórico.
Em 18 de novembro de 1966, nascia o Coral dos Pequenos Cantores do Colégio
Anchieta, fundado pelo Padre Vicente Konzen e assessorado pelo professor
e maestro Tercílio Poffo. Eram 27 meninos que constituíam
o conjunto. Nessa época, o grupo só cantava e usava alguns
gestos como uma expressão da música. Havia naquela época
uma professora de Educação Física que trabalhava com
um grupo de dança no Colégio Godói e eram feitas apresentações
no canal 5, no programa do Antônio Gabriel, todos os domingos. Uma
dia o Coral dos Pequenos Cantores do Colégio Anchieta foi convidado
a se apresentar neste programa, onde conheceram esta professora: Nilva
Pinto. A partir daí, ela foi convidada a participar do grupo como
coreógrafa (coreografava os gestos para os meninos), e em 1969 foram
incorporadas ao grupo 20 meninas dançarinas.
Com o passar do anos, o conjunto foi crescendo
e passou a se chamar Show Musical Anchieta Canto e Dança. Hoje fazem
parte do grupo 26 cantores, 07 dançarinos, 20 dançarinas
e 07 instrumentistas (guitarra, contra baixo, percussão, bateria,
órgão e marimba). Todos os meninos cantores também
tocam flauta doce. O repertório é muito variado, passando
desde o folclore regional, nacional e internacional, além de estampas
musicais populares e eruditas.
Segue agora uma entrevista realizada com
a professora Nilva Pinto, que até hoje continua como coreógrafa
do grupo.
1) Como e quando iniciou o Show Musical
Anchieta Canto e Dança?
Foi fundado em 18 de novembro de 1966,
pelo Maestro Tercílio Poffo e Padre Vicente Konzen. Nesta época
eram apenas meninos que compunham o grupo: 27 meninos que cantavam e gesticulavam.
Só um ano e meio depois, quando o grupo me conheceu (Nilva) no canal
5 (programa do Antônio Gabriel), comecei a coreografar os gestos
e, mais tarde incorporaram no grupo as meninas.
2) Quem tomou a iniciativa deste projeto
(quem elaborou, organizou)?
O professor e maestro Tercílio
Poffo e o Padre Vicente Konzen.
3) A organização do Show
é do Colégio Anchieta ou existe uma outra empresa envolvida
(vinculada) a este projeto?
Colégio Anchieta entre com o apoio
moral, as únicas coisas que nos são cedidas são duas
salas de aula para ensaios (uma para o ensaio da dança e outra para
os cantores e músicos). A APM do Colégio nos ajuda às
vezes; às vezes os pais dos alunos. Não existe um caixa ou
uma poupança. Nós mesmos mantemos o Show. Já houve
casos de pais reclamando que deveria pagar alguma quantia. Decidimos nos
manter por conta própria
4) Quando você começou a
trabalhar no Show Musical Anchieta Canto e Dança?
Em março de 1968.
5) Como foi a evolução do
Show Musical Anchieta Canto e Dança em sua estrutura até
hoje? Em sua opinião mudou muito?
O Show M. Anchieta não mudou nada,
nós tentamos conservar os mesmos padrões. O que muda são
as coreografias. Até mesmo as roupas são conservadas. O Show
tem um guarda roupa próprio. O aluno que entra no grupo é
responsável pela manutenção, ajuste ou qualquer outra
modificação que a roupa necessite. A nossa costureira é
a Maria Emília Rillo a 30 anos. Tanto ela como algumas mães
de alunos são pessoas que me apoiam e me ajudam, como por exemplo,
para procurar tecido, cuidar das crianças, etc. A vice consulesa
da Espanha e o tio Zé (apresentador do Show) me apoiam muito, entre
outros. Nós compramos tudo, inclusive a aparelhagem de som e luz.
Temos dois ônibus e um furgão. No furgão vai só
o material a ser instalado, dois técnicos e eu (Nilva). Nos ônibus
vão os alunos (atualmente 65), mães acompanhantes e roupas.
O Show não visa lucros e tem personalidade jurídica.
6) Como é a estrutura do Show?
Nós ensinamos três vezes
por semana (terças, quintas e sextas-feiras, uma hora). Ema uma
sala de aula ensaiamos as coreografias e em outra, a música e o
canto. Quando eu (Nilva) e o maestro Tercílio Poffo achamos que
os nossos respectivos grupos estão em condições, nós
juntamos o canto/música e a dança para ensaiar os dois juntos,
como é no espetáculo. Quanto ao Show, como já foi
visto antes, o furgão é o primeiro a chegar no local do Show
com os dois técnicos e eu. Nós montamos toda a luz e som
e fazemos todos os testes. Também gosto de limpar o camarin (quando
não está em condições, porque as crianças
muitas vezes sentam no chão e põem suas roupas também
no chão). Muitos camarins são sujos. Logo mais chega o ônibus.
Para entrar no camarin é feita uma fila do mais velho ao mais moço.
Entretanto no camarin, o aluno lê o seu programa e confere com o
programa afixado no camarim. Cada aluno tem em torno de um metro quadrado
para utilizar o camarin. Na mala, as roupas devem estar na ordem do Show
de cima para baixo (a primeira roupa corresponde a primeira coreografia).
As crianças ficam sempre hospedadas em casa de família (de
acordo com a disponibilidade da família, às vezes duas ou
mais crianças). Após as apresentações, começa
a Operação Formiguinha ( que existe há anos): cada
aluno é responsável por levar alguma material para o furgão;
os maiores levam caixas mais pesadas e os menores as mais leves. Eu (Nilva)
fico responsável pelas miudezas do figurino, como as flores, que
são muito fáceis de se perder e são acessórios
caros. Em 20 minutos está tudo pronto. Só há pernoite
se houver necessidade (um lugar muito longe).
7) Quem participa do Show Musical Anchieta
Canto e Dança?
Para participar do grupo a criança
do Colégio Anchieta e estar entre a terceira e a oitava série.
É feita uma seleção muito rígida na hora de
entrar. As meninas devem estar obrigatoriamente matriculadas em uma escola
de Ballet. É feita também uma entrevista com os pais, porque
muitos pais querem se ver livres dos filhos por uma tarde e estes não
gostariam realmente de participar. Essa seleção é
feita porque a disciplina do Show é muito rígida e, se por
indisciplina for necessário excluir alguém do grupo, é
feita a exclusão. Todos conhecem as normas do Show.
8) Como o Show está integrado ao
currículo da escola?
É uma atividade extra-curricular.
No máximo o Colégio ajuda com alguns prêmios, às
vezes. É tudo feito fora dos horários da escola;
9) Na sua opinião, quais os benefícios
da dança e quais as suas contribuições para com os
adultos, jovens e crianças?
A dança desenvolve a cultura. Numa
música folclórica por exemplo, se questiona o por quê
da dança, porque aquele povo dançava sempre daquele jeito,
porque a música era alegre ou triste. Sempre se leva uma mensagem
durante o Show. Também é importante citar a dança
como uma disciplina do corpo e da mente.
10) E o Show Musical Anchieta desenvolve
estes objetivos?
Com certeza, sempre estamos aprendendo,
até mesmo fora do Show, quando viajamos estamos conhecendo cidades
novas e novas culturas. A disciplina nem se fala! Nossos Shows sempre levam
mensagens. É um Show beneficiente.
11) Esses objetivos que se referem à
dança podem ser relacionados com os objetivos do Colégio?
De que maneira?
Já houve casos em que os professores
nos procuram pedindo para fazer uma coreografia que ilustrasse um estudo.
Mas quase nunca é feito assim. É muito difícil porque
nem sempre o assunto desperta o interesse das crianças.
Segue agora o relatório da experiência
que duas professoras vivenciaram no Colégio Souza Lobo.
1) Nomes: Edi Maschner e Idithe Ferlin;
2) Disciplinas: Currículo e Educação
Física, respectivamente;
3) Escola em que foi realizado o trabalho:
Escola Estadual de 1º grau Souza Lobo;
4) Qual foi o trabalho realizado?
Foi no anos de 1981 ou 1982, quando naquela
época a Delegacia de Educação exigia que fosse
desenvolvido trabalho e que no fim de ano seria apresentado (neste ano
o assunto envolvia Defesa Civil e Ecologia). Então a professora
Idithe juntamente com a professora Edi, se reuniram para elaborar um trabalho.
Naquele ano a primeira série estava trabalhando sobre lazer, então
as crianças escolheram juntas o tema da coreografia que seria o
circo. A coreografia era elaborada pela professora Edi junto com as crianças
que também sugeriam. Na Segunda série as crianças
estavam estudando sobre as árvores, então foi feita a Dança
dos Pássaros. Na terceira série os alunos estavam estudando
sobre a alimentação, então foi feita a Dança
dos Cozinheiros. Na Quarta série o estudo era sobre as indústrias
do bairro, então foi feita a Dança das Máquinas (cada
criança era a engrenagem de uma máquina). Na Quinta série
se estudava os direitos e deveres dos estudantes, então foi feita
a Dança do Estudantes. A Sexta série estava estudando o céu,
então foi feita a Dança das Estrelas. A sétima série
estudava a prevenção de acidentes, e foi feita a Dança
do Fogo (cada aluno era uma parede, o teto, como uma casa, tudo colorido).
5) Objetivos do trabalho:
Integrar a Educação Física
ao conteúdo desenvolvido em sala de aula (prática da atividade
física).
6) Como os objetivos foram alcançados:
Através de conteúdos desenvolvidos
em sala de aula, sempre com o consenso das duas professoras responsáveis
e alunos. Os ensaios eram feitos nas salas de Educação Física.
7) Resultados:
Ao final da apresentação,
a Delegada veio cumprimentar pelo trabalho, sugerindo que a apresentação
fosse repetida em outras escolas para servir de incentivo.
8) Esta atividade era considerada dentro
do currículo escolar, apoiado pela diretora da escola. A organização
deste projeto foi totalmente das professoras Idithe Antônia Ferlin
e Edi Maschner.
Na proposta do Show Musical Anchieta,
vemos a importância da organização de um trabalho e
das "muitas" responsabilidades para o seu êxito. Algumas coisas não
ficaram claras, como exemplo a sustentação do projeto. Se
o Colégio Anchieta não contribui muito financeiramente para
o avanço do projeto (roupa, iluminação, som, viagens,
etc.) de onde vem esse dinheiro? De acordo com a mãe de uma das
bailarinas, Teniza, o dinheiro para a viagem é divido entre os integrantes
dos grupos; a estadia é sempre em casa de famílias, os aparelhos
de luz e som e o guarda roupa são bens da coreógrafa e dos
diretores. De acordo com esta mãe, o contratante do Show fica responsável
por um pequeno cachê artístico (que não tem a intenção
de lucros), para gastos provavelmente de manutenção de aparelhagem
de luz e som, etc. Os patrocínios também ajudam na divulgação:
muitas vezes o Bamerindus e a Empresa Mercúrio.
Outro fato curioso e importante é
tentar entender o porquê do Show Musical C. e D. leva o nome do Colégio,
se este não patrocina o grupo? De acordo com a coreógrafa
Nilva Pinto, o Colégio da muito "apoio moral".
Já na Escola Souza Lobo, o trabalho
de dança interdisciplinar e muito rico,, mesmo não sendo
levado adiante. Foi possível realizar uma interação
entre teoria e prática com um êxito muito grande de acordo
com as professoras Edi e Idithe. O mais interessante é que fazia
parte do currículo escolar, ou seja, existe a possibilidade de realizar
trabalhos produtivos dentro da escola.
O conhecimento em dança, razão
de existir da relação professor-aluno, é focalizado
através dos seus conteúdos. Tais conteúdos, embora
possam ser comuns às demais metodologias de ensino, são percebidos
e estruturados de forma particular, pois não prioriza os fundamentos
da dança em si, mas ganham significado na medida em que garantem
a exploração de movimentos que expressem:
- a consciência corporal;
- a utilização do ritmo
enquanto distribuição e suas variações de duração,
intensidade e seqüência;
- as formas de relacionamento no espaço
em relação ao próprio indivíduo, com os outros
e com o objeto;
- o produto coreográfico, que reflete
o processo histórico do grupo e da realidade na qual está
inserido.
CONCLUSÃO
Vimos duas maneiras de trabalhar dança
em escola, que não são as únicas nem as melhores,
até porque falamos no "universo de Porto Alegre". Acredito nos benefícios
da dança para o desenvolvimento do homem consciente e atuante; da
cultura enquanto produto coletivo; da educação que se realiza
em diferentes práticas sociais; da própria dança como
manifestação cultural inerente ao homem e uma linguagem que
o indivíduo dispõe par expressar e comunicar seus sentimentos,
emoções e valores, refletindo as relações sociais
e culturas.
Fica para nós, a proposta ou o
desafio de projetos de dança, com propostas diferenciadas n\mas
atingindo bens pessoais e/ou sociais educativos.
BIBLIOGRAFIA
CUNHA, Morgada. Dance aprendendo, aprenda
dançando.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA -
Centro de EFI e Desporto (vol. 16, n.º 01, out. 94)
NANNI, Dionísia. Dança Educação:
Princípio, método e técnica (ed. Sprint)
NANNI, Dionísia. Dança Educação:
Pré - Escola à Universidade (ed. Sprint)